Dos benefícios do muro

A vida me ensinou que, não importa o quão bem intencionado alguém esteja, é preciso aprender a se proteger. Você pode se cercar somente de pessoas boas, você pode confiar plenamente em todos ao seu redor, mas a única pessoa que te permite saber o que se encontra dentro do coração é você mesmo. Mesmo as boas pessoas podem fazer coisas más.

É preciso ter escudo para a maldade. O mundo não é belo, nem bom. Pessoas vão te fazer sofrer. Às vezes, sem motivo algum para fazê-lo. Talvez seja por ignorância, talvez seja pensando em te fazer um bem, talvez seja só o que elas saibam fazer aos outros.

É preciso ter um cadeado que te dê uma fronteira. Se todo mundo tiver acesso ilimitado a todos os seus terrenos não haverá limite. E, se não houver limite, a aproximação se confunde com a invasão. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. É preciso ter um espaço só seu. Chame de privacidade, de individualidade. Ambas são importantes! Aquilo que é só seu funciona como uma prova de amor a si mesmo. Este amor que devemos cultivar sem exageros, mas também sem mesquinhez.

É preciso estar preparado para a luta. Só o homem que empunha a espada entende o quanto se pode desejar a paz. E não falo daquele homem que, ao menor sinal de um gesto alheio, atira em todas as direções toda a sua munição. Este é o tolo que não sabe concentrar suas forças no verdadeiro inimigo. Falo daquele que está sempre preparado para se defender, pois se defender também é cuidar dos que se ama. E, para se defender, às vezes é preciso usar da raiva, da agressividade. Elas são fruto do instinto de sobrevivência que grita pela emergência de manter-se inteiro para ver o sol nascer de novo amanhã.

É preciso estar atento. Na distração, nasce o tropeço. E talvez seja duro descobrir que, às vezes, somos nós mesmos que nos damos uma rasteira. E estar distraído é não poder antecipar a chuva que virá e perder a hora de semear. Dormindo, não vemos quem chega e nos leva os pertences e aquilo que amamos.

É preciso aceitar que, acima de tudo, toda a proteção que se tem pode ser ineficaz. A surpresa, por mais desagradável, nos lembra que somos humanos e que nós iremos falhar. E toda queda é recomeço. E começar de novo pode trazer execuções mais fecundas, mais felizes.

A vida me ensinou muitas coisas ultimamente. Mas a que mais se destaca, sem dúvida, é que no embrião do auto-amor está a auto-proteção. Quem ama, cuida. E como dizia a Oi naquele comercial: quem ama bloqueia!



EDIT: Não queria dizer que haveria um segundo texto relacionado a este antes que fosse o momento dele ir ao ar mas, se você ainda não o leu, ele está disponível aqui.