Esses garotos...

Eu e o Maridão moramos num condomínio de casas e temos uma vizinhança relativamente tranquila. E, como o Maridão é um cara muito carismático e benquisto por todos, não é de se estranhar que até as crianças o adoram e muito. Inclusive, todas elas o chamam de "Tio Maridão" (coisa que até alguns adultos fazem). Quando Maridão e eu estamos jogando peteca com a criançada, por exemplo, tenho certeza de que ele será um bom pai, pela maneira como ele lida com os "sobrinhos". Ele tem mesmo jeito com criança.

Como este era um mês de férias escolares, o número de vezes que as crianças bateram a nossa porta pedindo nossa peteca emprestada foi bem acima do normal. Afinal, todos os "capetas" estão o dia inteiro à toa e na companhia de primos e outros amiguinhos que normalmente não estão disponíveis para brincar.

Um caso desses "agregados" que está especialmente disponível nessas férias é um garoto que chamarei aqui de "Baianinho". Ele veio do interior da Bahia pra ficar duas semanas na casa de uma tia evangélica (aquela que largou tudo pra providenciar para mim transporte para me levar ao hospital). Ele é um garoto na faixa dos seus 11 anos (um pouco mais velho que a maioria dos meninos do condomínio, que têm entre 7 e 10 anos), meio tímido e encabulado. Mas, depois de uma semana em que eu jogava peteca com os meninos, percebi que o Baianinho já estava mais a vontade e tinha pegado intimidade com alguns dos meninos e até comigo. Posso arriscar a dizer que ele já estava me achando um cara legal, dada a insistência dele (e dos outros garotos também) para que eu participasse das partidas de peteca. Baianinho fez até uma pergunta sobre a minha barba (que estou deixando crescer):

Baianinho: Essa sua barba é de nascença ou você deixou assim tem pouco tempo?

É claro que ri muito com isso da minha barba "ser de nascença" e imaginei que, na cabeça dele, ou eu nasci um lobisomem ou eu era algum tipo de mulher barbada do sexo masculino.

O Baianinho ficou muito próximo de um dos meninos do condomínio que eu chamarei de "Catatau". Brincava com todos, mas era junto com Catatau que ele aprontava as bagunças e passava a maior parte do tempo conversando. Toda hora estavam o Baianinho e o Catatau batendo a minha porta pra pedir emprestado a peteca ou pra convidar eu e o Tio Maridão a participar da brincadeira. Numa dessas batidas na porta, eu vou atender e tenho o seguinte diálogo com o Baianinho:

Baianinho: Cara Comum, me empresta a peteca do Tio Maridão?
Cara Comum: Claro! Ela é minha também, então eu posso emprestar!
Baianinho: Você é irmão do Tio Maridão?
Cara Comum: Não...
Baianinho: Então o que você é dele?
Cara Comum: Ele é meu namorado.
Baianinho: O que? Namorado? o.0
Cara Comum: É! Namorado...
Baianinho: Namorado? o.0
Cara Comum: Sim!
Baianinho; Ah, então está bom. Depois eu devolvo a peteca.
*Pega a peteca e sai com uma cara de "encafifado"*
*Fecho a porta. Menos de um minuto depois a campainha toca*
Baianinho: Aqui, amanhã de manhã você vai estar em casa? Lá pelas 10:30h?
Cara Comum: Vou. Por que?
Baianinho: É que eu queria pegar a peteca emprestada de novo e como o Tio Maridão não vai estar aqui...
Cara Comum: Tudo bem. Eu te empresto...
Baianinho: Mas, aqui... Você é namorado dele mesmo?
Cara Comum: Sim!!! Qual a dúvida?
Baianinho: Você é viado? o.0
Cara Comum: Huahuahuahuahua!!! Bom, eu sou...
Baianinho: Duvido! Espera aí...
* Sai. Chama o Catatau na Casa dele e volta*
Baianinho (pergunta para o Catatau na minha presença): O Cara Comum é namorado do Tio Maridão?
Catatau: Não é não...
Cara Comum: Sou sim!
Catatau: o.0 Duvido!
Cara Comum: Então duvidem, meninos. Já falei que sou, oras!
Catatau: Mas cadê a aliança?
Cara Comum: Ainda não temos...
Baianinho: Amanhã eu vou perguntar para o Tio Maridão...
Cara Comum: Tudo bem...

No outro dia, nenhum dos dois se lembrou da história ou não acharam que era preciso perguntar nada a ninguém...