Eis que, em janeiro de 2015, a Revista Galileu resolve fazer uma reportagem sobre a bissexualidade e colocou o assunto na capa da edição. Isso mesmo: matéria principal! Pra um grupo que, às vezes (pra não dizer muitas vezes), fica invisível até dentro da comunidade LGBT, isso já é um avanço enorme! Como eu não ficaria feliz com isso?
Fui ler. E, num primeiro momento, gostei. A empolgação por ganhar a visibilidade me fez relevar um monte de erros. Aliás, pra falar a verdade, eu achei que a matéria traria mais erros, mas ela foi até boa para os padrões que se vê fora da militância bi. Contudo, não dá pra se contentar com migalhas e não querer avançar, certo?
Assim, o blog "Bi-sides" publicou uma carta de repúdio, com diversas críticas à matéria, todas muito bem fundamentadas. Eu, muito mais limitado e desconhecendo no momento o texto do Bi-sides, fiz uma análise mais rasa na qual apenas me chamou atenção o fato da reportagem não desmistificar, de forma mais incisiva, essa coisa de gênero binário x bissexualidade, que é algo ainda problemático, além de não dar voz a casos de interseccionalidade entre bissexualidade e raça e uma ou outra bola fora gritante que o texto trouxe...
Outro ponto extremamente complicado que considerei logo em seguida à leitura foi a indução à fetichização da mulher bissexual. Fomentar essa ideia presente na reportagem de que a pessoa bissexual quer viver novas experiências e, portanto, a mulher bissexual "topa tudo, com todos, a toda hora" contribui para uma cultura de estupro, especialmente de mulheres bissexuais. Muitos acreditam nesse estereótipo e, por isso, acreditam que a mulher bissexual não tem o direito de dizer "não". E isso é extremamente perigoso! No Brasil, não existem pesquisas que nos permitam perceber o impacto dessa fetichização na população das mulheres bissexuais. Mas uma pesquisa de 2010 conduzida pelo CDC (órgão estadunidense que equivale ao nosso Ministério da Saúde) aponta que 46.1% das mulheres bissexuais (quase metade de todas as mulheres bissexuais) já foram estupradas. Isso nos permite fazer uma extrapolação e imaginar que o cenário para as mulheres bissexuais brasileiras não deve ser muito diferente...
Resumindo: no fim da leitura, havia em mim um misto de felicidade e preocupação com a publicação desta matéria.
Algum tempo depois, revisitando a versão digital da reportagem (disponível aqui), percebi que algumas correções foram feitas, após a publicação da nota de repúdio do Bi-sides. Mas muitos dos problemas do texto original continuam lá. Uma pena. Uma revista séria de divulgação científica não deveria se limitar a sensos comuns, reprodução de bifobia e erro crassos. Esperava por mais seriedade nesse tipo de trabalho.
Estas reportagens e pesquisas atuais sempre caem no descrédito justamente por eseta posição rasa com q abordam os assuntos ... no fundo só querem estar de acordo com o senso comum e vender matéria ... uma pena ...
ResponderExcluirBeijão
Infelizmente, Bratz...
ExcluirBeijão!
Faz muito tempo que não leio esses tipos de revistas e alguns sites científicos.
ResponderExcluirFalta um controle de revisão nos textos, faltam conhecimentos dos assuntos pelo redator, pesquisa do assunto e por ai vai. Muitas vzs, ou qse sempre uma revista é vendida pela capa e o conteúdo é limitado.
Fora quando o veiculo de imprensa faz uma matéria com 2s intenções, com interesses de 3os e sem editoriais, as vzs é melhor que publicassem receita de bolo como faziam.
Hahahaha... Concordo com vc!
ExcluirQuando leio alguma coisa que começa com “segundo novas pesquisas científicas...” já me coloco com um (talvez dois) pé atrás. A vida é tão mais complexa do que cabe nessas tais classificações! São tantas as variáveis envolvidas nos fatos, ainda mais em matérias humanas. Ainda mais no que se refere à sexualidade. E mesmo, será que é possível ser tão isento de preconceitos por parte dos pesquisadores? Abraços.
ResponderExcluirO problema é que, mesmo quando os pesquisadores reconsideram seus (pré)conceitos, pessoal da divulgação não faz o mesmo movimento...
ExcluirAbração!