
Já faz um tempo, eu estava conversando com um amigo no msn e rolou dele lembrar coisas de uns 15 anos atrás, mais ou menos. Da época em que a nossa amizade estava começando...
É claro que o assunto fez eu viajar no tempo e lembrar de coisas que já estavam enterradas... Daí, comentei isso com ele:
- Cara! Lembrei de tanta coisa aqui... Aliás, depois quando a gente se encontrar pessoalmente, vê se me lembra que eu tenho que te perguntar uma coisa...
- Ué, pode perguntar agora...
- Ah, eu não queria perguntar isso por msn não... É melhor pessoalmente...
- Que isso, cara!! Somos amigos, pode perguntar...
Respirei fundo e pensei: "Tá, né? Também não precisa fazer ocasião solene pra perguntar uma bobagem dessas...". E disparei:
- Você já deve ter ouvido falar que eu sou gay, né?
(Só pra contextualizar: ele é um dos meus amigos dos quais ainda não havia surgido uma oportunidade para eu tocar no assunto... E, para simplificar, eu prefiro falar que sou gay que falar que eu sou bi. Dá tão mais trabalho explicar a verdade...)
- Sim, eu já ouvi falar. Mas, e daí??
- Pois é. É que, naquela época, vc foi o primeiro cara de quem eu gostei de verdade, sabe... E eu queria saber se eu te incomodei com isso. Se eu passei do limite ou se consegui te tratar só como amigo mesmo... Vc percebeu o que tava rolando comigo??
Tá, eu sei que talvez eu tenha exagerado no momento revelação. Joguei duas bombas na mão dele de uma vez. Mas pelo "e daí?" da resposta dele, me senti confiante pra fazer isso...
Eu também sei que pelo msn a gente não tem tanto feedback numa conversa e que talvez era melhor falar isso pessoalmente. Não tem entonação de voz, olho no olho... Porém, ele mesmo falou que nós somos amigos, assim eu acreditei que havia amizade e maturidade suficiente para que eu pudesse falar uma coisa destas. Além disso, eu jurava que todo mundo já sabia de tudo, inclusive ele, então não haveria maiores problemas...
Mas, mesmo com toda falta de feedback, deu pra perceber que ele ficou meio abalado pela notícia. Afinal, o ritmo de resposta dele diminuiu bastante... Parecia que ele estava pensando muito no que me responder... Assim, veio uma resposta demorada:
- Eu te respeito na sua
opção, mas eu jogo em outro time....
Fiquei pensando: "Pronto! Perdi o amigo! Ele entendeu tudo errado, achou que eu estava cantando ele!!"
Deu um trabalhão. Tive que explicar que eu nunca achei que ele não fosse hetero e que, por isso mesmo, eu ficava com muita raiva de mim, por gostar de um amigo e hetero ainda por cima. Tive que explicar que já era uma história mais do que morta e enterrada. Que eu, mais ou menos um ano e meio depois dessa história toda, já tinha superado tudo e me apaixonado por outra pessoa (uma menina que namorei por 3 anos). E que a única dúvida que restava em mim foi se eu havia lhe causado algum incomodo ou transtorno.
Como ele não precisava me responder (pela reação dele, era óbvio que ele nunca nem sonhou com essa possibilidade), ele apenas me perguntou como eu o enxergava hoje. Eu respondi a verdade: como um grande amigo. Que tudo o que sentia antes, ficou no passado. E que meu único objetivo em perguntar sobre aquilo era tirar essa dúvida da minha cabeça.
Como era nítido que a notícia o havia incomodado de alguma forma, eu perguntei se ele estava bem e se havia mudado algo entre nós por eu ter contado essa história pra ele. Ele me falou que estava apenas surpreso e que era muita informação pra ele processar...
Então, respondi que era melhor mudar de assunto e que, se ele quisesse conversar depois sobre aquilo, eu estaria a disposição... Ele me respondeu que não havia necessidade da parte dele e que, se eu disse que o assunto estava morto e enterrado, não havia porque falar mais daquilo.
Mas é claro que não deu pra simplesmente mudar de assunto. Ficou um clima tenso, o assunto não fluia. Então inventei que tinha que sair do msn e que depois a gente se falava. Alívio para ambas as partes, provavelmente.
Fiquei um tempão, uns bons dias, hipotetizando sobre as consequências daquela conversa...
Quase um mês depois, foi aniversário da irmã dele, que é uma das minhas melhores amigas. Ela me convidou pra ir na casa dela e, como eu não podia negar, eu fui. Fiz de tudo pra não esbarrar com esse meu amigo, afinal não sabia se ele já tinha processado tudo aquilo...
Mas como o encontro era inevitável (afinal, também era a casa dele), estávamos lá, frente a frente numa situação que muito provavelmente só eu e ele sabíamos que estava acontecendo. Num primeiro momento, ficou uma coisa meio estranha, mas depois voltou tudo ao normal e conversamos numa boa.
Se eu soubesse que essa história iria gerar tanto desconforto, talvez eu não falasse nada pra ele. Mas e a curiosidade em saber se ele algum dia havia se incomodado com o fato de eu gostar dele e mesmo assim resolveu continuar sendo meu amigo??
Moral da história nº 1: Eu sou assim mesmo: prefiro pagar pra ver que ficar só imaginando: "será?", "como seria?"...
Moral da história nº 2: Eu nem dou tanta bandeira quanto imagino, afinal eu tinha certeza de que ele sempre soube de tudo, mas era um amigão e ponto...
Moral da história nº 3: Todo mundo sobreviveu e agora eu tenho, ao menos, a curiosidade satisfeita e uma boa história pra contar...