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segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Sou bi ou pan?

Me considero uma pessoa bi-pan.

Sou pan porque me sinto atraído por pessoas, independentemente do gênero delas. Contudo, raramente me sinto atraído de forma isonômica por todos os gêneros. Na maioria do tempo, me sinto atraído em maior intensidade por determinados gêneros e isso vai variando em determinadas épocas da minha vida. Porém, da mesma forma que pessoas bissexuais podem se atrair com intensidade diferente, o fato de eu me atrair por determinado gênero com menor frequência/intensidade não apaga a possibilidade de atração. Não acredito que haja um critério que selecione pessoas legitimamente Pansexuais de pessoas que "não são dignas" de assim se identificar. É o termo que uso menos para me identificar, dependendo da necessidade de força política do momento, conforme explico a seguir.

Sou bissexual porque é uma identidade que também me contempla na medida em que entendo bissexuais como pessoas que se atraem por mais de um gênero (o que se costuma a considerar como o guarda-chuva bissexual = pessoas não-monossexuais). Considero uma identidade que, politicamente, tem um poder maior de diálogo com a população "leiga" (heterossexuais cis que desconhecem tantas nuances das sexualidades e identidades de gênero, na medida em que "nunca precisaram" conhecer sobre para se emancipar). Utilizo também porque o "B" está na sigla LGBT, mas sofre apagamento sistemático, mesmo no movimento LGBT. Sou uma pessoa bissexual não binária de gênero fluido e pan-romântica e gosto de usar bissexual pra reforçar a ideia que defendo de que não é a identidade da pessoa que a torna "imune" de transfobia e, assim como existem bissexuais transfóbicos com pessoas não-binárias, existem pansexuais, polissexuais, omnissexuais, multissexuais (...) assim; Além disso, visibiliza o fato de que há muitas pessoas bissexuais que não são transfóbicas com pessoas não-binárias. Atribuo tal transfobia ao fato da pessoa ser binária (cis ou trans) já que tive o desprazer de ver tanto pessoas cis como trans deslegitimando e invisibilizando identidades não-binárias. Me afirmo bissexual no meio não-monossexual porque percebo uma espécie de rejeição à identidade bissexual por parte de algumas pessoas não-monossexuais e não-bissexuais.

Para mim, no meio não monossexual, na maior parte do tempo me sinto confortável com ambas identidades (bi-pan) e até com outras (omnissexual, gender-blind, etc.) e as uso de forma indistinta. Mas na maioria do tempo, dou prioridade para a nomenclatura bissexual por questões políticas.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Travestchy e orientação sexual não é bagunça!!

Já aviso de antemão: o texto é longo e polêmico. Vai ter gente me jurando de morte depois de ler isso, mas creio que vale a pena!

Através do site Superpride, fiquei sabendo da existência de "novas orientações sexuais", como os G0ys e os Highsexuais. Quando surgiu isso tudo aí, fiquei me questionando: ok que o que a pessoa sente é muito mais determinante do que a opinião externa para se definir a própria orientação sexual. Mas eu também questiono que, para efeitos práticos, vivemos numa sociedade que reprime orientações sexuais que não sejam a heterossexualidade.

Assim, como inferir se a orientação sexual declarada condiz com a realidade interna da pessoa ou se aquilo não é apenas manifestação de uma repressão que foi internalizada? Essa diferenciação pode ser extremamente importante, por exemplo, para que um psicólogo consiga ajudar um paciente a resolver conflitos que estejam ligados à orientação sexual da pessoa (i.e. autossabotagens cuja raiz são a homofobia internalizada). Logo, nem todo questionamento a respeito de uma sexualidade é deslegitimação/silenciamento (desde que, obviamente, o questionamento tenha o compromisso com o máximo de respeito possível). Entendo que os conceitos de orientação sexual são muito limitados, principalmente por serem associados, na maioria das vezes, a um sistema binário de gênero. Mas algumas orientações sexuais que surgem na mídia parecem tão vazias de coerência que me fazem questionar a existência real delas.

Isso me leva a raiz: como definimos uma orientação sexual? Por ser um comportamento humano, eu, como um biólogo, acredito que deve ser considerado três fatores, principalmente, quando se trata da expressão de uma orientação sexual: os biológicos, os culturais e os psicológicos. Já adianto que minha visão não é nem de longe determinista, mas próxima de um discurso biológico pós moderno que reconhece a interação de diversos fatores entre si.

Por fatores biológicos, quero dizer a existência (ou não) de uma necessidade fisiológica de satisfação sexual. Temos diversos tipos de necessidades fisiológicas como, por exemplo, de ingerir substâncias químicas das quais nosso corpo necessita (e, dependendo do alvo do desejo, damos nomes diferentes a estas necessidades - sede, para quando o corpo clama por água e fome para quando o corpo deseja outros tipos de nutrientes). É importante perceber que esses são nomes de referência para nossas necessidades fisiológicas, pois a fome pode se manifestar por uma vontade de comer alguns tipos específicos de comida ("não gostaria de fazer um lanche: estou com fome de comida de casa, tipo arroz com feijão e coisas semelhantes"...), de maneira que existem várias "fomes", várias "sedes", vários "sonos"... Se alguém tenta "enganar o próprio corpo" enchendo o estômago de outras substâncias químicas (tipo as pessoas que bebem água pra gerar a sensação de saciedade para a fome), ela não satisfaz a necessidade fisiológica que originou o desejo. Este, certamente, voltará com mais intensidade num futuro. Fisiologicamente, podemos dizer que a necessidade de satisfação do desejo sexual funciona de forma análoga ao que eu relatei acima a respeito das substâncias químicas de que necessitamos para nos manter vivos. Para não tornar isso aqui mais extenso, não vou entrar no mérito de que cada corpo tem uma fisiologia única (ou seja, funcionamos bioquimicamente diferentes uns dos outros, apesar de um padrão comum à nossa espécie - o que explica reações diferentes em cada indivíduo para um mesmo remédio, por exemplo), e de que pode haver uma influência genética (ou epigenética) na sexualidade humana, além de outros fatores biológicos que geram ainda hoje pesquisas sobre o tema. Apenas citarei isso e, num futuro, pode ser que eu resolva fazer um post pra destrinchar melhor o que eu penso sobre isso.

Contudo, existe os fatores culturais que modelam a forma como satisfazemos esse desejo (é importante lembrar que inclui-se na cultura a educação formal, a educação informal e a educação não-formal, dentre outros fatores). Um exemplo de como a cultura interfere nas maneiras que temos para satisfazer nossa necessidade fisiológica de nutrientes é que um tipo de alimento muito popular numa determinada cultura pode ser considerado repulsivo ou mesmo não ser percebido como alimento em outras culturas (no sudeste asiático, baratas, aranhas, escorpiões, grilos, formigas, bichos da seda e outros artrópodes são vendidos como comida em barracas de espetinhos, coisa inimaginável na cultura brasileira). Podemos usar esse exemplo para compreender metaforicamente, como a cultura tem influência sobre a orientação sexual. A cultura nos cria padrões do que é ou do que não é considerado atraente e isso delimita como podem ser expressas as sexualidades humanas.

Somado à cultura e aos fatores biológicos e culturais, existe também os fatores psicológicos envolvidos na formação da sexualidade humana. A trajetória pessoal de cada indivíduo que pode reforçar ou suprimir determinadas tendências comportamentais, na medida que cada experiência interage com as imagens mentais e com os modelos mentais do indivíduo. Quero deixar claro que, quando digo isso, não estou pensando num sentido estritamente ligado ao conceito do Behaviorismo, mas algo mais próximo da Psicologia Cognitiva. Considerando que imagens mentais e modelos mentais são formulados a partir da vivência dos indivíduos, a trajetória pessoal pode contribuir para moldar tendências comportamentais, incluindo aí a forma como o indivíduo lida com o próprio desejo sexual.

Antes que me acusem de abrir precedentes para métodos que pretendam interferir na sexualidade das pessoas, vale salientar que a construção da sexualidade é um processo que inclui muitas variáveis e que a maioria delas é muito difícil de controlar, de forma que podemos considerar impossível querer intervir no processo de formação da sexualidade humana e conseguir o êxito em conduzi-la a um caminho previamente desejado por quem pretende interferir, sem que se produzam "sequelas" ou "resultados não-funcionais". Aliás, pode-se também considerar que as interferências intencionais na sexualidade humana não são capazes de alterar o que seria seu "destino natural".

Dessa forma, existe a possibilidade de o indivíduo ter uma tendência biológica, psicológica e cultural que o deixaria susceptível a vivenciar determinada orientação sexual, mas por alguns fatores de sua trajetória pessoal de vida, ele escolhe não viver (ou seja, o que chamamos de alguém "enrustido"). Neste caso, teríamos uma "orientação sexual potencial" (que foi reprimida por um fator psicológico e/ou cultural) e uma "orientação sexual declarada" (que é aquela que o indivíduo diz sobre si), sendo que das duas emergem de um conflito psicológico no qual o indivíduo não consegue, em muitas das vezes, se enxergar em sua totalidade. Na minha modesta opinião, G0ys e os Highsexuais são exemplos deste último caso. Parece haver um "malabarismo de argumentação" para justificar um distanciamento de uma orientação homossexual ou bissexual, na medida em que se observa inconsistências argumentativas.

Creio que G0ys e os Highsexuais são exemplos de inconsistência na definição de o que é uma orientação sexual, pois, para início de conversa, só abarcam em suas definições um dos gêneros. Uma pessoa homossexual, heterossexual, bissexual, demissexual ou assexual pode pertencer a qualquer gênero. Mas só pode ser g0y, por exemplo, quem for "homem" com "jeito de homem", que não curta penetração anal e que não se identifique como gay, nem tenha nada que remeta ao feminino. Assim, o termo g0y seria mais uma demonstração de machismo e homofobia que propriamente uma orientação sexual. Importante lembrar também que a questão de não haver sexo com penetração anal não define uma orientação sexual, pois está mais ligada à preferência de determinadas práticas sexuais - e homossexuais, bissexuais, heterossexuais e demissexuais podem ou não gostar de determinadas práticas (por exemplo, alguns pessoas gostam de penetração, enquanto existe os que dispensam qualquer tipo de penetração - e isso vale para qualquer uma das orientações sexuais "clássicas"). Para os Highsexuais, além da crítica de que apenas homens se declaram "highsexuais", vale pensar se não é o caso no qual muita homofobia internalizada pode reprimir os desejos pessoais e que, com o uso da droga, a mente da pessoa consegue se livrar mais facilmente da autorrepressão, em semelhança do efeito já conhecido do álcool. Além disso, se dlecarar Highsexual expressa todo um apagamento da bissexualidade, como sintoma de uma bifobia internalizada (pois, em nossa sociedade monossexista, a maioria dos heteros condenaria os bissexuais por terem relações com pessoas do mesmo gênero e a maioria dos homossexuais condenaria os bissexuais por terem relações com pessoas de outro gênero ou por julgá-los como enrustidos, indecisos, etc.). Em todo o momento em que se fez piada sobre o termo "Highsexuais", ninguém cogitou a possibilidade da descoberta de uma possível bissexualidade, dada a influência de um pensamento monossexista de que não existem pessoas que possam se sentir atraídas por mais de um gênero.

Com esta postagem, assim como no texto em que faço uma revisão teórica das limitações das categorias que temos para as orientações sexuais humanas, não quero invalidar a experiência alheia ou mesmo dar a palavra final sobre um assunto tão polêmico. Gostaria apenas de sugerir que, como temos uma necessidade humana de criar nomes para compreender as coisas e que esses nomes são referências genéricas, que criemos todos os nomes necessários (os tais rótulos). Mas que mantenhamos a cautela para não criar tantos nomes que, ao invés de facilitar a nossa compreensão do mundo, torne a nossa comunicação extremamente confusa. E, para encontrar o equilíbrio necessário, sugiro o questionamento respeitoso e a abertura também respeitosa para receber as respostas à crítica feita.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Orientação sexual e identidade de gênero: para além do binarismo

Este é um post básico, mas serve até pra quem já se considera num "nível avançado" de entendimento sobre a sexualidade humana. Posso dizer isso porque as diversas áreas do conhecimento humano continuam estudando a sexualidade humana e o progresso crescente trouxe tantas mudanças que mesmo as pessoas mais experientes nesse assunto podem se perder. Farei aqui, portanto, um registro de alguns dos conceitos básicos, mas nem sempre tão claro para todos.

Grande parte da mudança de significado de alguns conceitos básicos se deve ao novo entendimento a respeito do que é gênero. Logo, primeiramente, vamos fazer uma distinção entre sexo e gênero, seguida de uma explanação sobre alguns dos possíveis gêneros para depois rever as orientações sexuais frente a esse panorama.

Sexo se refere principalmente à caracteres biológicos. Engloba uma configuração de cromossomos, hormônios (e o balanço hormonal), gônadas (ovários, testículos), unidades reprodutivas (espermatozóide, óvulo), anatomia interna e externa e características biológicas sexuais secundárias. Muita gente considera o sexo biológico como algo dicotômico, como se houvesse apenas duas opções: macho e fêmea. Contudo, a Biologia contemporânea reconhece que esse sistema binário é incapaz de compreender as características sexuais, tanto da espécie humana como de outros seres vivos dióicos, visto que podem existir os intersexuais (indivíduos que apresentam diversas combinações dos caracteres genéticos, fisiológicos e/ou anatômicos, de forma que os termos "macho" e "fêmea" não conseguem defini-los de maneira precisa) e os indivíduos hermafroditas (esse termo vale para seres vivos que realizam reprodução sexuada e possuem em seus corpos sistemas reprodutores completos, de forma que, simultaneamente, são "machos" e "fêmeas" reprodutivamente funcionais). Como a espécie humana não é composta, em sua maioria, por indivíduos hermafroditas (já que não somos classificados como uma espécie monóica), é extremamente raro (para não dizer impossível) encontrarmos um indivíduo humano que possa ser considerado um hermafrodita verdadeiro (ou seja, reprodutivamente funcional, tanto como "macho" quanto como "fêmea"). Além disso, existe um grande estigma ofensivo associado à palavra hermafrodita, quando se refere a um ser humano, de forma que, mesmo num caso de hermafroditismo verdadeiro, é aconselhável que se use socialmente o termo "interssexual" ao se referir a uma pessoa.

Gênero está mais vinculado à sua própria percepção de quem você é (ou seja, homem, mulher, intersexual, transgênero etc.). Dessa forma, o gênero tem a ver, principalmente, com qualidades socialmente reconhecidas como masculinas ou femininas ou nenhuma delas ou ambas. De maneira semelhante ao que acontece com o sexo biológico, somos socialmente ensinados a considerar o gênero como apenas uma dentre duas opções: homem ou mulher. Novamente, esse sistema binário é insuficiente para a compreensão do gênero de todos os seres humanos, especialmente através das diversas culturas existentes. É válido ainda lembrar que uma pessoa pode se identificar com determinado gênero, mas ser percebida pelas outras pessoas erroneamente. Por isso, a identidade de gênero (como cada pessoa se identifica) nem sempre está relacionada a uma expressão de gênero. E, por tudo isso, faz-se necessário a expansão dos conceitos de gênero. Como os nomes que as pessoas usam para definir a própria identidade de gênero são dinâmicos, farei a seguir uma relação de algumas das possíveis identidades de gêneros, sem a intenção, contudo, de esgotar o assunto nem (in)validar determinadas identidades de gênero.

Algumas das possíveis identidades de gênero que podem estar dentro das condições de cisgêneros ou transgêneros:

  • Cisgêneros (pessoas cis ou cissexuais): Pessoas cuja identidade de gênero é concordante com o gênero que lhe foi atribuído (antes ou após seu nascimento) em razão de uma norma social cissexista que impõe um determinado gênero a um sexo biológico específico. Pessoas cisgêneras são sempre binárias, porque os gêneros designados são binários.
    • Mulher Cisgênero (pode ser abreviado como "mulher cis"): uma pessoa que foi atribuída (antes ou após seu nascimento) ao gênero feminino e ao sexo biológico de uma típica fêmea da espécie humana e se identifica com/ se apresenta como do gênero feminino.
    • Homem Cisgênero (pode ser abreviado como "homem cis"): uma pessoa que foi atribuída (antes ou após seu nascimento) ao gênero masculino e ao sexo biológico de um macho típico da espécie humana e se identifica com/ se apresenta como do gênero masculino.
  • Transgêneros (transexuais): São pessoas cujo gênero difere do gênero que lhe foi atribuído (imposto) pela sociedade. Pessoas transgênero ou transexuais podem ser binárias (mulheres e homens transgênero ou transexuais) ou não-binárias (que NÃO se encaixam nas classificações binárias de "mulher" nem "homem"). O termo "trans" pode ser usado como diminutivo de transgênero e transexual, porém há pessoas que se identificam somente com trans e não com transgênero e nem com transexual e isto deve ser respeitado. Algumas vezes (mas não necessariamente), uma pessoa trans* faz ou gostaria de fazer alterações em seu corpo físico com cirurgias, hormônios, ou outras modificações (por exemplo, treinamento vocal, vestimentas etc.) de forma a ser socialmente percebida como alguém do gênero a que se identifica. Pessoas trans que fazem essas modificações vivenciam um período na vida que chamam de "transição", no qual ainda estão adequando o próprio corpo à percepção social que gostariam de ter.
    • Mulher Transgênero (pode ser abreviado como "mulher trans" - ou "MTF", principalmente no caso da pessoa se submete a um processo de transição): uma pessoa que foi atribuída (antes ou após seu nascimento) ao sexo biológico de um macho típico da espécie humana e se identifica com/ se apresenta como do gênero feminino. Em geral, gosta de ser tratada por pronomes femininos (ela, dela, etc.) ou de termos de gênero neutro.
    • Homem Transgênero (pode ser abreviado como "homem trans" - ou "FTM", principalmente no caso da pessoa se submete a um processo de transição): uma pessoa que foi atribuída (antes ou após seu nascimento) ao sexo biológico de uma típica fêmea da espécie humana, contudo se identifica com/ se apresenta como do gênero masculino. Em geral, gosta de ser tratada por pronomes masculinos (ele, dele, etc.) ou de termos de gênero neutro.
    • Bigênero binário: alguém que se identifica como "homem" e "mulher" ao mesmo tempo. Uma identidade bigênero binária é uma combinação destes dois gêneros, mas não obrigatoriamente uma repartição meio a meio, já que quem se identifica assim muitas vezes sente – e expressa – cada um desses gêneros por inteiro.
    • Andrógino: é utilizado por quem tem qualidades socialmente chamadas de masculinas e femininas, mas se considera um terceiro gênero separado. Essa palavra tem raízes no latim: “andro” quer dizer “homem” e “gino” quer dizer “mulher”. Alguns andróginos podem se identificar como "gender benders", o que significa que estão intencionalmente distorcendo (“bending”) ou desafiando/transgredindo os papéis de gênero estabelecidos pela sociedade.
    • Neutrois: um gênero neutro e bem determinado que se posicionam totalmente fora e sem qualquer conexão com os gêneros feminino e masculino.
    • Multigênero: pessoas que se identificam com mais de um gênero. Podem ser bigêneros (neste caso, podem ser dois gêneros quaisquer), trigêneros (três gêneros quaisquer) pangêneros (experiência de gênero que se refere a uma enorme multiplicidade de gêneros que pode ou não tender ao infinito - ou seja, pode ir além do conhecimento atual sobre gêneros) ou poligêneros (multiplicidade de gêneros semelhante à pangeneridade, porém, geralmente, engloba menos gêneros).
    • Agênero: Alguém que não se identifica com qualquer tipo de identidade de gênero. Esse termo também pode ser utilizado por alguém que intencionalmente não demonstra qualquer representação de gênero reconhecida. Há quem passe por tratamentos hormonais e/ou cirurgias para fazer com que seus corpos se adequem a sua identidade de gênero nenhum. Algumas pessoas usam termos similares como “sem gênero”. 
    • Gênero Fluido: Alguém cuja identidade de gênero e apresentação não se limita a apenas uma categoria de gênero. Pessoas de gênero fluido podem ter compreensões dinâmicas ou flutuantes do próprio gênero, mudando de um para outro de acordo com o que sentir melhor no momento. Por exemplo, uma pessoa de gênero fluido pode se sentir mais como um homem num dia e mais como uma mulher no dia seguinte, ou sentir que nenhum dos termos se aplica a ela.
    • Gênero em Dúvida: Alguém que pode estar colocando em dúvida seu gênero ou sua identidade de gênero, e/ou considera outras maneiras de experimentar ou expressar seu gênero ou apresentação de gênero.

Como foi possível perceber acima, não é possível utilizar as orientações sexuais baseadas num sistema binário de gênero. Logo, as orientações sexuais também são mais complexas do que já foram consideradas antigamente. Abaixo, pretendo listar algumas das possíveis orientações sexuais sem a intenção, contudo, de esgotar o assunto nem (in)validar determinadas orientações sexuais.

Assim, algumas das possíveis orientações sexuais são:
  • Monossexual: conjunto de todas as orientações sexuais de pessoas que sentem atração por um único gênero.
    • Homossexual: alguém que sente atração sexual pelo mesmo gênero a que se identifica (neste caso, o prefixo "homo" é entendido como igual).
    • Heterossexual: alguém que sente atração sexual por UM gênero diferente do próprio gênero (neste caso, o prefixo "hetero" é entendido como diferente). É importante lembrar que NÃO se pode dizer que uma pessoa heterossexual é atraída pelo “gênero oposto”, porque não existe “gênero oposto”.
  • Bissexual: conjunto de todas as sexualidades que sentem atração sexual pelo mesmo gênero e também por gêneros diferentes (neste caso, o prefixo "bi" faz referência aos prefixos "homo" e "hetero", assumindo o significado de que trata-se de uma pessoa que sente atração por pessoas de gêneros que são iguais ao próprio gênero e também por pessoas que tem um gênero diferente). É um termo "guarda-chuva" pois, abriga em si diversos termos correspondentes a identidades de gêneros não-monossexuais.
    • Polissexual (muitas vezes um sinônimo para uma acepção mais restrita da palavra "bissexual"): pessoa que sente atração sexual por vários gêneros (dois ou mais), mas não todos. Exemplo: alguém que sente atração sexual pela maioria dos gêneros, exceto por pessoas agêneras.
    • Pansexual (ou Onissexual): (1) pessoa que sente atração sexual por todos os gêneros; (2) pessoa que sente atração sexual independentemente do gênero, ou seja, o gênero não importa.
  • Assexual: pessoa que não sente atração sexual por outras pessoas.
  • Demissexual: (1) pessoa que estaria entre a assexualidade completa (100%) e a monossexualidade/bissexualidade completa (100%); (2) quem somente sente atração sexual por uma pessoa após desenvolver uma forte conexão emocional com a mesma; (3) pode ser também o grau do tipo de atração, isto é, o modo com que a atração sexual se dá por algum gênero em específico. Por exemplo, uma pessoa bissexual pode ter também demissexualidade em relação a um gênero em específico.
Por ser este um assunto muito complexo, reforço o caráter de esboço desta postagem, a consciência do caráter efêmero desses conceitos e a abertura de minha parte para receber e analisar críticas que proponham acréscimos e/ou alterações.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Eu sou o B daquela sigla

O tempo vai passando e os horizontes da gente vão se abrindo cada vez mais. Antes, eu tolerava mais a bifobia vinda de heterossexuais e/ou de membros da comunidade LGBT. Mas assim: por que eu me sinto impulsionado a combater homofobia e negligencio a bifobia ao meu redor? Talvez a minha bifobia internalizada? É, não sei, mas parece que sim...

Durante muito tempo, levei com bom humor essa coisa de "bissexuais não existem" ou "é só uma fase". Ou que eu sou indeciso, ou que não tenho coragem de assumir minha homossexualidade. Por muito tempo, eu tentei compreender a insegurança alheia de achar que eu fatalmente vá trocar a pessoa que eu estou me relacionando por outra pessoa, numa demonstração bifóbica que reforça um imaginário de que um bissexual não é capaz de construir uma relação monogâmica, se assim o desejar.

Contudo, agora as coisas vão ser diferentes e eu pretendo ser mais incisivo contra a bifobia e trazer para este blog mais textos com a temática bissexual, problematizando a realidade espefífica que nós vivemos.

Partiu ser radical e formar a resistência bissexual de Blogsville!


terça-feira, 23 de setembro de 2014

Bissexualidade é só uma fase (que dura a vida inteira)!

Eu sou muito BI. Sou muito BIcha, muito BIssexual, muito BIpolar e muito BIscate. E não me envergonho de nada disso! Sou o que sou, se você não gosta disso, se afaste e dê espaço pra quem quer chegar perto.

Mas não vim mandar recado direto pra ninguém. Escrevo hoje porque esta data é um dia especial para mim e para os meus iguais: Hoje é o Dia da Visibilidade Bissexual! É um dia que existe para a gente dar um recado muito simples: nós existimos e não somos nada parecido com o que a maioria das pessoas pensa que nós somos! Nós não somos o seu preconceito!

Não somos pervertidos, nem estamos vivendo uma fase que vai passar. A gente só acha que o gênero de uma pessoa não é um critério restritivo que nos impede de amá-la. Se você não entende isso, nós não temos que entender o seu preconceito! Ah, e, definitivamente, nós não somos pessoas sem coragem de nos assumir. É preciso ainda mais coragem para enfrentar preconceito vindo de heterossexuais, de homossexuais e de qualquer outra pessoa que nos discrimine por não conseguir imaginar que existam pessoas diferentes do que a sua própria forma de viver.

Nós somos bissexuais, mas antes disso, somos pessoas, cada uma com seus sentimentos, crenças, vícios e virtudes. E, como pessoas, nós queremos e exigimos respeito! Não nos reduza ao seu preconceito. Não nos julgue pela sua medida. Não nos transforme em algo invisível, dizendo que só se pode ser isto ou aquilo. Não se esqueça de nós quando estivermos lado a lado lutando pela mesma causa: o fim da discriminação contra as minorias sexuais. Não recuse o nosso amor por conta da sua insegurança, colocando a culpa nas "nossas probabilidades de encontrar outro alguém". Não venha até nós, a cada novo namoro ou término de relacionamento (ou mesmo em nossa "solteirice"), tentar verificar "se ainda continuamos bissexuais": quem sabe o que nós sentimos e o que nós somos é cada um de nós.

A todas as pessoas bissexuais do mundo, seguem os meus parabéns, meu carinho e minha admiração! Eu sou um de vocês e "tamo junto"! Pra outras pessoas eu mando beijos: um beijo pra você preconceituoso! E dois pra você que já se libertou dessa bobagem!

terça-feira, 3 de abril de 2012

Já ouvi demais isso daí...

Estava lendo o post do Lobo sobre ele gostar de ver o Luv MTV e me interessei em ver um dos programas ao saber que passaram uma edição com uma bissexual que tinha a sua disposição dois homens e duas mulheres como candidatos a um possível namoro na TV.

Empolguei demais com a ideia do programa e fui conferir. Por descuido, antes de ver o programa na íntegra, acabei abrindo esse vídeo abaixo que contém apenas trecos mais marcantes:

Sabe o que eu penso: essa primeira frase que é dita nesse vídeo aí eu já ouvi demais da boca das pessoas em geral. E ela é puro preconceito contra bissexuais. Porque, seguindo a lógica da frase, teríamos que ter o mesmo medo de perder o(a) namorado(a) heterossexual pra qualquer pessoa do sexo oposto. A mesma coisa, mutatis mutandis, se esperaria para os namoros homossexuais. Se você se sente inseguro(a) por acreditar que a pessoa com quem você está namorando vai te trocar por outro, saiba que isso é uma questão SUA e não um problema da pessoa com quem você namora. Afinal, quem é que garante que a pessoa com quem você decide namorar (sendo hetero, homo ou bissexual) não vai conhecer uma pessoa legal e resolver te trocar por ela? É algo que pode acontecer EM TODA relação. Dizer que "não dá pra ter total confiança num bi porque a qualquer momento você pode ser trocado por outra ou por outro" é dizer nas entrelinhas que a pessoa bissexual não está disposta a investir numa relação monogâmica e que o heterossexual (ou ou homossexual) faz isso com muito mais certeza. E eu te digo: certeza de que a troca nunca acontecerá num relacionamento, ninguém tem. Cabe a própria pessoa que decide entrar num relacionamento hetero, homo ou bissexual trabalhar melhor a autoconfiança e a confiança no outro.

É claro que essa não é a única frase carregada de preconceito que escuto. Tem também clássica "bissexuais não existem", que foi ironizada na descrição do vídeo do tal programa na íntegra. Bom, se você pensa exatamente assim, muito prazer: eu sou o Papai Noel!

Entendo que muita gente acredita que "ser bi é só uma fase". Nem vou discutir isso aqui. Só chamo a atenção pra um fato que às vezes contribui para essa percepção: é claro que existem bissexuais convictos de sua sexualidade, mas algumas pessoas, antes de se assumirem homossexuais, se proclamam bissexuais numa tentativa de ser "mais aceito e menos discriminado". Longe de mim criticar geral, porque só a própria pessoa sabe as dificuldades que teve que enfrentar para resolver a questão da própria sexualidade para si e para o mundo. Mas se eu pudesse dar um conselho pra quem está pensando em seguir esse caminho, falaria que este é o maior tiro no pé que se pode dar. Primeiro porque bissexuais sofrem preconceito, não só por parte de alguns heterossexuais que os desprezam da mesma forma que desprezam os homossexuais, mas também da parte alguns homossexuais, que consideram que todos os bissexuais são, na verdade, homossexuais que não têm coragem de se assumir totalmente. Já aconteceu de eu conhecer pessoas (homens e mulheres) bacanas que não quiseram namorar comigo só porque contei que sou bissexual (muitas vezes, tentando disfarçar seu preconceito usando a frase discutida acima sobre "a ameaça iminente" de ser trocado). Já aconteceu também da pressão de amigos e da família da pessoa que eu estava namorando ser tão forte pelo fato de eu ser bissexual que o namoro acabou. Entendo que para algumas pessoas seja preciso se valer do recurso de se dizer bi para se conseguir avançar no processo da autoaceitação, mas meu conselho é não ficar nisso por muito tempo, para evitar sofrimentos para você mesmo e para a cristalização de uma imagem que se tem dos bissexuais.

Outra grande ilusão é achar que um bissexual nunca vai ficar sozinho (ou "na seca") porque tem o dobro de opções. Primeiro que não depende só dele conseguir atrair alguém, pois nem todo mundo do sexo oposto é heterossexual e nem todo mundo do mesmo sexo é homossexual (além de que o biotipo pode não agradar - tem gente que não curte ursos, tem gente que não curte magrinhos...). Segundo porque a pessoa pode ser bissexual, mas ser muito desinteressante (assim como há homossexuais e heterossexuais desinteressantes), no sentido de que não conseguem ser nada além de um rostinho bonito.

Existe também um medo exagerado da traição e até uma paranoia infundada de uma contaminação por DSTs pois, teoricamente, bissexuais seriam mais promíscuos. Volto a dizer neste blog que a traição está mais ligada à questão do caráter que à quantidade de oportunidades que se tem. E, mesmo a pessoa promíscua (seja qual for sua sexualidade) pode nunca ter relações sexuais de risco (leia-se sem preservativo), enquanto que uma pessoa fiel, pode "cair em tentação" e fazer sexo sem proteção (e bastaria uma vez para ser contaminada por qualquer DST).

Do mesmo preconceito também nasce aquela frase de que "hoje em dia tem muita gente que vira bissexual por modinha". Eu acredito que, na verdade, muito mais gente hoje em dia se permite experimentar, de uma forma menos "camuflada", o que seu desejo pede. Assim, muitos homossexuais e heterossexuais que estão numa fase de consolidação da própria identidade são pressionados a assumir um rótulo e eis que o de bissexual lhes serve muito bem, na medida em que ele reflete a vivência presente de uma experimentação voltada para ambos os sexos. Além disso, com uma relativa diminuição do preconceito, muitos jovens atualmente se sentem mais confortáveis em assumir publicamente a própria sexualidade, o que faz algumas pessoas pensar que há uma "onda" de homossexuais/bissexuais ou que "está na moda" se declarar assim, quando, na verdade, apenas temos uma geração que tem condições mais propícias pra assumir uma condição que gerações anteriores tiveram que esconder devido às circunstâncias desfavoráveis.

Quando penso em tudo isso, fico impressionado em como todos nós temos dificuldade de perceber que existem medidas diferentes das que usamos em nossa vida. Sair de nosso referencial limitado e imaginar que existem realidades diferentes das nossas é um exercício complexo, mas necessário.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Obrigado, Dani Calabresa!!!!

Viu aquela notícia sobre a bancada evangélica fazer um projeto pra poder considerar a homossexualidade como doença?? Afff...

Mas ainda existe inteligência a nosso favor!

Após todo o sarcasmo com o qual a notícia merecia ser tratada no Furo MTV, ela, Dani Calabresa, coroa esse vídeo com a frase mais lúcida e ácida que poderia ter sido dito em resposta a tal afronta. Veja aos 2:39 do vídeo:



Beijos, Dani! A gente te ama!!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A raiz da homofobia

Passeando pelos blogs que leio, achei um vídeo num dos comentários que merece ser compartilhado. Ele fala sobre o que existe por trás da homofobia. Ele vai até a raiz do problema. Merece ser visto e divulgado!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A surpresa


Estava eu no sábado no Palácio das Artes vendo alguns curta-metragens que faziam parte de um festival e, entre uma sessão e outra, fui abordado po uma cega que gostaria de saber onde estavam as escadas.

Prontifiquei-me em levá-la aonde ela queria ir e começamos a conversar um pouco. Descobrimos que temos um conhecido em comum (afinal, Belo Horizonte é um ovo...), que ela fazia Jornalismo e estava ali para fazer uma entrevista, dentre outros assuntos do mesmo tom. De repente, ela me fala assim:

- Nossa, você já está há um tempo aqui me acompanhando, será que sua namorada não vai ficar com ciúmes?

Eu nem havia falado sobre namoro, ainda mais namoradA. Enquanto pensava que ou eu havia entendido errado, ou aquela era uma indireta, respondi meio sem graça:

- Na verdade, quem está me esperando é o meu namoradO...

Ela fez uma cara de quem ficou sem graça e disse:

- Ai, desculpa! Nossa! Desculpa!...

Eu não aguentei e comecei a rir. "Desculpa"? Por que? Por que ela pensou que eu era hetero? E olha que não é a primeira vez que eu recebo essa reação... Fico sem entender por que as pessoas se desculpam... É mole?

Pra não ficar aquele clima falei:

- Que isso! Não precisa se desculpar, nem ficar sem graça... Não tem porquê...

Após alguns instantes, ela me solta mais essa:

- Bom, pelo menos ele não vai ficar com ciúmes de mulher, né?

Tive que explicar:

- Bom, em teoria ele tem motivos, porque eu também gosto de mulher. Mas ele é super tranquilo e sabe que o nosso amor está acima de tudo, para mim...

A resposta foi reticente e pálida:

-Ah...

Senti que ela queria muito mudar de assunto e antes que eu a ajudasse, ela se adiantou:

- Você acha que estou bonita? É que eu tentei caprichar pra essa entrevista e estou com medo de ter exagerado na maquiagem...

- Você está linda! - respondi por educação e por sinceridade.

Apresentei ela ao meu namorado e nos despedimos: ela foi para a entrevista e nós para casa.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Um papo inesperado


Não sei se é o meio em que convivo ou se o mundo todo é assim, mas eu não tenho perto de mim opiniões das mais "esclarecidas" a respeito de homossexualidade. Mas nessa tarde tive uma (boa?) surpresa nesse âmbito. Tanto que resolvi postar o papo com o mínimo de juizo de valor possível...

Foi bem no meio de uma conversa despretensiosa que uma colega minha de trabalho me solta uma, mais ou menos assim:

- Olha só aquele menino pequeno. Acho que quando ele crescer, ele vai ser gay... Será que a pessoa nasce gay? É genético?

- Ah, eu acredito que a gente já nasce gay. Mas por que você acha que ele vai ser gay? Só pelo jeito dele? As coisas não funcionam assim...- retruco

- Ah, sei lá... Eu tenho um amigo que eu achava que era gay. Já aconteceu de, uma vez, eu trocar de roupa na frente dele, ficando apenas de calcinha, achando que ele era gay. Um tempo depois estava passeando com meu namorado e encontro ele com uma menina, namorando...

- Pois é. Tá vendo? Mas você tinha tanta suspeita que ele era gay pelo jeito dele? Isso não diz muita coisa não... Eu tenho um amigo que eu jurava que era gay e não é... - retruquei de novo.

- Pois é... Ai que vergonha! Ele deve me achar uma louca, pervertida... E ele está longe de ser o que eu pensava que ele era...

- Sei lá... Ele pode ser bissexual, por que não?

- Não, não é não... Ele não tem jeito de bissexual... Pelo menos de todo mundo que é bissexual que eu conheço, ele não tem nada a ver...

Quando eu ia perguntar o que era "jeito de bissexual", ela emenda:

- Todo mundo podia ser assim, bissexual. Aumentariam as possibilidades, as chances...

- É, mas isso também não funciona assim... As pessoas não entendem, têm preconceitos, não querem se relacionar com um bissexual...

- As pessoas não têm que achar nada não, elas tem que ser felizes e pronto. Eu tenho um amigo que estava lamentando junto comigo o fato da gente não ser bissexaul. Ele disse que até tentou dar uns beijos em uns caras por ai, mas ele percebeu que não era o que ele queria... Aí ficamos nós dois reclamando por um complexo por ser heterossexual e não bissexual...

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Meninos e meninas

Atendendo a um pedido, vou falar da minha sexualidade. Faço isso porque senti que talvez seja uma oportunidade de somar mais uma outra opinião sobre o tema e, quem sabe assim, eu esteja contribuindo para eu e as pessoas se entenderem melhor. Sei que não vai dar pra fechar o assunto em um post, por esse fica como uma introdução ao mundo do que eu sou e sinto.

Seria eu bissexual? Para efeitos de se enquadrar em rótulos, podemos considerar que sim. E olha que eu já quis achar que não.

Na adolescência, eu não entendia meus desejos: homens e mulheres me chamavam a atenção e mexiam com minhas fantasias. Para os poucos caras mais velhos que quiseram conversar depois de ficarem comigo na época perguntei se eles passaram por experiências semelhantes. Quase todos me falaram que eu estava confuso e que essa fase iria passar. Como a "fase" estava demorando a passar (e dura até hoje, rs), continuava perguntando. Até que um cara chamado Fernando me disse pra não encanar com isso. Que nem tudo na sexualidade dá pra entender racionalmente e que eu não deveria tentar me enquadrar num rótulo homo ou hetero. O melhor a fazer era viver a sexualidade e o rótulo seria consequência.

Isso foi superimportante pra mim, porque me ajudou a me dar liberdade para sentir algo que não era bem visto pelos heteros nem pelos homos: gostar de homens e mulheres ao mesmo tempo.

E gostar dos dois sexos começou muito cedo na minha vida. Eu devia ter uns 4 anos quando percebi isso. Lembro-me de brincar com minhas primas de médico com um certo "interesse sexual de criança" e fazer o mesmo com vizinhos que eram meus amigos. Não sei precisar qual vontade veio primeiro (meninos ou meninas) e na verdade acho que elas aconteceram ao mesmo tempo.

O que me atrai mais sexualmente falando, em questões numéricas, são os homens. São eles que eu mais procuro com os olhos. E por isso, eu já pensei em me considerar apenas homossexual. Mas acontece que as mulheres, ainda que menos frequentes, mexem bastante comigo. Me atraem ao passar, ao olharem pra mim, em sonhos eróticos... enfim, não dá pra ignorar nenhum deles.

O preconceito é a pior parte. Homens e mulheres não gostam de se relacionar com um bissexual. Acham que serão traídos ou trocados por alguém do outro sexo. O fato é que, num namoro, fidelidade é fidelidade, independente de quantas possibilidades se tem à disposição. Também existe muita incompreensão da capacidade dos bissexuais de amar e a grande maioria acha que os bissexuais são pervertidos e só querem sexo, como o pastor do vídeo abaixo:



Não precisa falar porque o vídeo dele não aceita comentários. É uma das faces do preconceito que já tive que enfrentar vindo de homens e mulheres heterossexuais e homossexuais por ser complicado demais pra eles entenderem.
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