sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Libertando...

Um dia, ao sair do trabalho, esperava o ônibus pra casa quando vieram em minha direção 3 homens trajando uma espécie de uniforme verde. As pessoas que estavam no ponto de ônibus comigo subitamente desistiram de esperar e foram embora. Eu demorei um pouco mais pra entender o que estava acontecendo.

O caso é que eu trabalho relativamente próximo a um presídio e aquele trio de verde ganhava novamente a liberdade após cumprir a pena. Os uniformes parecem com aqueles usados por trabalhadores de uma empresa famosa daqui de BH e, se não fosse pelos papos, quem ainda não conhece o uniforme não perceberia que o trio era formado por ex-presidiários.

Num primeiro momento, quando me dei conta da origem do trio, tive muito medo (mas já não dava pra fugir). Depois, eles puxaram papo comigo e pude percebe-los de outra forma.

Relataram o preconceito que receberam quando o ponto de ônibus esvaziou e fizeram questão de afirmar que não fariam nenhum mal a quem estava na luta, a quem era tão pobres quanto eles e que não tinha demonstrado tal discriminação...

Depois pude notar a euforia de cada um deles pela liberdade recém (re)conquistada. Pareciam meninos pequenos a quem se dá um presente. Ouvi alguns dos planos deles: um era de Sampa e havia ganhado uma passagem que o deixaria numa cidade que faz divisa entre Minas e São Paulo. O plano era voltar para casa. O outro iria visitar o filho, pegar o carro e dar umas voltas pelo morro onde ele morava pra rever os amigos. O terceiro iria até o centro de BH num prostíbulo qualquer e depois disse que beberia bastante...

A alegria deles era realmente contagiante. Dentro do ônibus, pareciam moleques em excursão escolar...

Eu desci no mesmo ponto que eles desceram. Eles estavam levando o "paulista" para a Rodoviária de Belo Horizonte mas, no caminho, pararam pra comprar algo que lhes foi oferecido por um homem que disse que não podia vender ali no meio da rua. Eu segui meu caminho e não mais os vi.

Tudo isso me deixou pensando, pensando, pensando...

12 comentários:

  1. não é uma questão de preconceito mas vc é muito corajoso ... rs ... MEDA!!!

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  2. Sei lá, seria muita bandeira eles te assaltarem na boca do presídio. Só achei estranha (ou não) essa frase: "...pararam pra comprar algo que lhes foi oferecido por um homem que disse que não podia vender ali no meio da rua.". Como assim?

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    1. Tb fiquei curiooso, Lucas.. AInda mais na rodoviaria...

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    2. Eu escrevi essa frase porque realmente não sei o que o cara ofereceu a eles: se foi droga, arma ou CD pirata do Calypso... Também fiquei curioso!

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  3. A frase que chamou a minha atenção foi "e fizeram questão de afirmar que não fariam nenhum mal a quem estava na luta, a quem era tão pobres quanto eles e que não tinha demonstrado tal discriminação".Quem não se encaixasse nesse perfil, né?Hehehe.

    Mas enfim acho que não teria medo até porque imagino que seja improvável que ex-presidiários voltem a cometer crimes logo após serem soltos.Quem reincide deve esperar pelo menos uns dias, né?Relaxar, ir no puteiro e tal...Mas sei lá até onde vai o bom senso desse povo...

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    1. Pois é: é sempre um risco estar a mercê do bom senso alheio...

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  4. CC... a liberdade só é valorizada quando é perdida, sabemos disso..e talvez eles estivessem ainda na euforia de ver o sol...
    Provavelmente, naquele momento, você realmente não estivesse em perigo. O futuro???... o futuro, só Deus sabe!
    Beijos

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  5. Interessante seu relato, conquistar a liberdade nessas circunstâncias deve ser um prazer indescritível...
    Embora o medo seja espontâneo, seria muita burrice da parte deles, praticar algum ato contra a lei no 1º dia de liberdade, ainda mais sendo próximo do presídio.
    Mas, a mente humana, é uma caixa de surpresa...
    Só lamento por eles ter comprado algo, porém o vício é vício, só um viciado para relatar o quão ruim é não ter forças suficientes para evitar algo...
    Abraços garotao!

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    1. Não sei se eles compraram algo "em nome do vício". Eu realmente não faço ideia do que eles compraram. Poderia ser apenas perfumes contrabandeados da China: a fiscalização contra o comércio ilegal em BH é muito hipócrita...

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