domingo, 26 de dezembro de 2010

Meu amigo e eu - parte I


Esta é uma época em que as pessoas mostram sua beleza. A maior das belezas, aquela que é interior. As vezes fico um pouco frustado porque acho que todo este "esforço sentimental" deveria ser uma constante durante o ano: as pessoas deveriam ter o espírito de natal sempre.

É triste pensar que isso passa. Que a gente quer viver em duas semanas do ano o que não viveu no ano inteiro. Dizer que o outro é especial, que o sentimento continua vivo. Estar presente, desejar coisas boas. Isso tudo se evapora na poeira da rotina dos outros dias do ano.

Eu tento ser coerente e não faço esforços extraordinários: o que eu faço no fim de ano é o que eu faria em qualquer data. E é o que faço em qualquer data. Isso pode soar aos outros como uma certa "insensibilidade ao natal", mas me sinto melhor agindo assim.

E, por isso, estava até fazendo um balanço das minhas amizades neste fim de ano, como faço periodicamente. E cheguei a conclusão que tenho poucas amizades. Mas as que tenho valem por um milhão. Isso me torna alguém que passa grande parte do tempo sozinho. Mas, quando acontece de haver um amigo por perto, fico tranquilo de ser um amigo verdadeiro.

Ontem, um grande amigo meu me ligou. O "Bat-Amigo". Conversamos durante uns cinco minutos, no máximo. Mas foi como se fosse por horas. Há muito não nos falávamos devido a correria da vida dele. E eu já tinha dito antes da ligação: ESTOU COM SAUDADES, PORRA!!! Ele simplesmente me respondeu: "apareça". Puxa! E sou só eu que tenho que correr atrás dele? Nem respondi. Depois disso, ele resolveu me ligar e me convidar pra fazer uma trilha, visitar uma cachoeira... PORRA! Eu gosto dele pakarai e desse tipo de programa também. Nem pensei duas vezes: vou!

Porque a nossa amizade é daquelas em que um entende o outro, entende as limitações do outro, gosta do outro do jeito que ele é. E é recíproco e verdadeiro. Fico até com orgulho de ter construido uma relação assim. Não guardamos mágoas. o que mais quero é viver mais bons momentos do lado dele.

O Bat-Amigo é meu melhor amigo hetero (e meu melhor amigo também). Era um homofóbico ferrenho. Uma vez ele me falou que já teve vontade de bater "num viado que ficou" olhando pra ele, isso sem saber de minha orientação sexual. Fazia sempre umas piadinhas, aquela coisa de hetero chamando o amigo: "sua bicha!". Noutra feita ele disse que até topava acampar com "Jack" (um amigo de um amigo dele) mas que "não iria dormir do lado de um viado na barraca". E eu fiquei pensando o que aconteceria se ele soubesse de mim.

Este dia chegou. Eu estava namorando um cara, o "Ex Maluco". Quando ele conheceu o Ex Maluco, logo perguntou pra mim:

- Cara, o Ex Maluco é gay?

Eu respondi:

- Por que você está perguntando isso pra mim? A melhor pessoa pra dizer isso é ele mesmo... Pergunta pra ele...

Mas nem precisou. Na próxima vez em que estávamos Ex Maluco, Bat-Amigo, eu e mais um amigo, o Ex Maluco me solta uma assim:

- Eu vou falar pra você: vida de bicha é difícil...

Depois disso, o Bat-Amigo perguntou "se eu iria ficar andando com o Ex Maluco", no que eu respondi "Qual o problema?". Até então eu não queria revelar ao Bat-Amigo que o Ex Maluco era o meu namorado. Porque eu achei que ele iria ter muita dificuldade pra assimilar isso. Com certeza ele iria questionar se o que rolou da minha parte com ele sempre fora amizade, iria se lembrar que durmiu muitas vezes ao meu lado numa barraca (sem que acontecesse nada, claro!), iria ter um choque forte de valores que ele sempre acreditou. Eu sei que o choque pelo choque não é positivo. O choque costuma a afastar as pessoas, ao invés de aproximá-las. O choque em si não diminui o preconceito, mas pode criar mais preconceitos. Tinha uma ponta de medo de ser rejeitado também.

Acontece que, num outro dia, estávamos Bat-Amigo, eu e mais dois amigos quando o Bat-Amigo me solta essa pergunta:

- Cara Comum, você está virando viado?

Como eu acredito que toda pergunta deseja uma resposta, respondi:

- Tô virando viadaço.

Todo mundo riu sem acreditar que eu estava falando sério. O assunto mudou e, depois de mais ou menos umas duas horas, o Bat-Amigo me volta ao assunto:

- Vc tá virando viado mesmo?

- Tô...

- Mas é viado ou é bi?

- Bissexual...

- Ah, bom...

Ele falou "Ah, bom"??? Pode ter certeza que foi porque ele não sabia o que dizer.

- Mas como estou namorando um cara, só estou exercitando meu lado homossexual - completei.

O assunto mais que depressa mudou. Bat-Amigo se afastou por um tempo, evitava conversar comigo sobre minha vida. Umas duas semanas depois a gente se encontrou e conversamos quase que normalmente. Dava pra perceber que tava sendo super difícil pra ele e que ele tentava a todo custo me tratar como se nada tivesse acontecido. Eu decidi dar o tempo que ele precisava e me afastei.


PS: Tava ficando muito grande, então decidi dividir o texto em duas parte, ok? Até a próxima!

4 comentários:

  1. Uai, Foxx, não entendi: que mal??? Abraços!

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  2. Amizad não se mede por quantidade e sim qualidades...
    Sou de poucos amigos, mas amigos que confio mto...
    Quanto ao "L", interessante ver a mudanças na maneira de pensar, e agir, sinal de que ele realmente curti sua amizade...
    Abçs

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  3. Ro Fers, é isso aí! Eu tb curti ver essa mudança... Abraços!

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