quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O bom, o mau e o homofóbico

Tenho dois amigos que tem a cabeça muito aberta pra maioria das coisas,  mas são muito reacionários para outras questões. Eles são o Amigo Urso Panda (que foi "coadjuvante" neste post) e a Amiga Gênia.

Falando assim, não parece nada digno de nota, já que isso poderia ser dito para a maioria das pessoas (afinal, todos nós temos nossos preconceitos, infelizmente...). Mas esses dois amigos vão além da média: eles fazem campanha ardente e apaixonada para defender suas posições "equivocadas", mas quando estão "perdendo" uma discussão, eles param de discutir, alegando que, se expressarem seu ponto de vista, serão taxados injustamente de "homofóbicos/racistas/whatever" e apedrejados em praça pública. E não é raro essa esquiva surgir no meio de uma conversa amena, sem o indício de que o clima iria esquentar... Por esse tipo de reação e por outras atitudes,  eu acredito que eles sejam sim "homofóbicos/racistas/mimimi-para-tudo-que-for-diferente-de-mim" e só não conseguem admitir isso para si.

Eles já me fizeram pensar um monte de vezes numa tendência que as pessoas têm de tornar tudo uma caricatura grosseira da realidade. Como se quem fosse homofóbico fosse uma pessoa extremamente má, tipo um vilão de novela mexicana. Parece que as pessoas em geral só conseguem encarar os extremos "bem/mal" e não conseguem enxergar que existe muito mais no meio desse caminho. No mesmo barco, podemos incluir pessoas que combatem ferrenhamente quem elas consideram como homofóbicos. Afinal, essas pessoal enxergam a pessoa que pratica atos permeados de homofobia como um "monstro que deve ser exterminado".

Querem saber de uma novidade? Vivemos numa cultura que é racista, machista, homofóbica, transfobica e que tem outras qualidades do tipo. Então, mesmo que seja em pequeno grau, todos nós aprendemos com a cultura em que fomos criados a ter essas características. Então, não tem jeito: todo mundo é homofóbico!

"Ah, mas então, se todo mundo é homofóbico, não tem problema eu continuar a agir do jeito que eu sempre ajo..." Nananinanão!!! O que vc é pouco importa para os outros, mas o que você faz sim! E você pode escolher não ter atitudes homofóbicas! Pode odiar quem você quiser, mas fica com esse ódio só pra você! Você pode também lutar, não contra pessoas homofóbicas, mas contra atitudes homofóbicas! Ao invés de dizer o óbvio "você é preconceituoso" (como se alguém fosse isento de o ser), por que não dizer "sua atitude x foi preconceituosa"? É mais eficiente para esclarecer as pessoas. E esclarecer é o melhor caminho para que, um dia, nossa cultura não seja mais "[insira aqui o nosso preconceito e aversão patológica pelo 'diferente']".

12 comentários:

  1. Can I Get An Amen? Amem!
    Todos temos nossos pré-conceitos, coisa encarcada na nossa cabeça por tudo que nos cerca, que fez parte da criação e da sociedade, eu mesmo considero que superei alguns preconceitos ao longo dos anos, mas não cheguei nem perto de superar outros. E concordo plenamente no que diz respeito as extremos!

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  2. Eu discordo somente do ultimo paragrafo. Ninguém pode odiar ninguém. Eu sei que querer destruir o preconceito a tal ponto que nenhuma pessoa seja homofóbica é uma construção utópica, porém é condescendente dizer que alguém está liberado.para ser racista ou homofóbico se nunca expressar isso. Na intimidade da sua mente o crime.é o mesmo que se ele for externado. O que vc ensina com isso é apenas que hipocrisia tá aprovada nessa sociedade.
    Não acredito que é assim que as coisas devem funcionar. Alguém que se percebe homofóbico, ou racista, ou transfobico ou etc, etc, etc, deve assumir que é e pedir ajuda pra deixar de ser. Ninguém deve estar autorizado a manter seus preconceitos guardados, eles devem ser estimulados a lidar com eles e supera-los.

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    1. Eu discordo de vc também, Foxx!! O que passa na cabeça de alguém é algo pessoal e a sociedade não tem nada a ver com isso (desde que não seja externado de maneira alguma). As vezes eu tenho vontade de matar algumas pessoas, mas esse pensamento que passa pela minha cabeça não é a mesma coisa que se eu matasse a pessoa de verdade. Não é crime sentir ódio, mas sim praticá-lo. E eu não acho que essa postura seja hipocrisia, mas sim uma postura de respeito ao outro, na medida em que, mesmo sentindo impulsos para agredi-lo, eu escolho não o fazer. Hipocrisia, para mim, é declarar uma coisa e fazer outra, o que não seria verdade no caso do ódio não externado pq esse ódio não seria manifestado (logo, não haveria declaração do sentimento) ao mesmo tempo em que ninguém seria desrespeitado.

      Todavia, eu não disse que a pessoa não tem que compreender o ódio que sente e tentar lidar com esse sentimento. O ideal é que todos estejam dispostos a lidar com a própria homofobia e superá-la, na medida em que compreendem que suas atitudes tem uma postura mais ética que o sentimento que guardam em sua intimidade e que superar a própria homofobia traz benefícios para todos.

      Outro efeito desta postura seria o fim de uma cultura homofóbica, pois se ninguém expressar a própria homofobia em nenhum momento, as crianças não aprenderiam a ter tais ideias...

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  3. Olha... eu acho todos nós somos homofóbicos, machista, preconceituosos e tudo mais, em algum grau, não dá para ser "de boa" com tudo. A questão para mim está em como isso influência a sociedade onde estou inserido. Não é porque eu não concorde com isso ou aquilo, que eu acho que não deva existir ou ser proibido, esse é o ponto...

    Não é algo que a pessoa deva ser orgulhar, mas é algo que está presente em todos nós... Teu texto me lembrou de uma propaganda que vi passar algumas vezes na televisão que perguntava: Onde você guarda o seu preconceito?! alguma coisa assim...

    Texto muito bacana! Abração! :-)

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  4. Texto denso, né! Fiquei pensando aqui... indivíduo preconceituoso, ou indivíduo com ações preconceituosas. Pequena “viagem” (rs): seria como a discussão entre a psicologia e a sociologia? Acredito que, para melhor compreender, devemos exercitar um discurso transdisciplinar... a unidade é sempre o indivíduo e seu entorno (portanto suas ações). Uma coisa não pode ser analisada sem a outra. Será que dá pra entender? (rs)

    Abraços

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    1. Sim, Adriano. Deu pra entender. O que eu abordo no texto é só o impacto social de se ter um preconceito qualquer, logo meu texto está baseado numa análise sociológica (com destaque para o direito civil) e não entra no viés individual (psicológico).

      Se eu avançasse nessa direção, o texto ficaria MUITO mais longo...

      Abraços!

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  5. Já me ofereci pra fazer recrutamento e seleção dessas amizades suas, não foi??? Vc n aceita, nisso que dá.. Em blogsville ou fora dela, tah sempre amigod e gente que eu fico me perguntando: Mas pq mesmo???

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    1. Gato, eu nem estou reclamando dos meus amigos! Ao contrário: estou dizendo que eles me inspiram reflexões... rs

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