Gentileza gera gentileza

Assumir-se é extremamente importante, porque negar o que se é não leva a lugar nenhum. E, para mim, assumir que tenho alguns "defeitos" foi mais difícil que assumir minha sexualidade. Em compensação, a partir do momento em que eu assumi que sou ranzinza, por exemplo, comecei a lidar muito melhor com minha rabugice. Foi libertador.

Porque estou falando isso? Bom, faz uns dias, eu estava próximo ao Metrô já no caminho de volta para casa e, como tenho um pouco de claustrofobia, decidi pagar um boleto bancário outro dia para ir embora naquele momento mesmo, pois era um horário em que a plataforma de embarque e os vagões ainda não estão muito cheios.

Depois de cruzar a roleta, fui a direção à plataforma de embarque e comecei a escutar uma cantoria. Na plataforma havia dezenas de adolescentes cantando (e alguns também tocavam violão) uma música alegre (que, provavelmente, era uma composição de alguém do grupo) cuja letra falava de praticar gentileza, espalhar alegria, fazer do mundo um lugar melhor e ideias afins. Eles estavam todos usando uma camisa com a logomarca do SESI e a frase: "Espalhando a gentileza". Apesar de ser claramente uma ação ligada a alguma escola da rede SESI, os adolescentes não pareciam estar fazendo aquilo por obrigação. Cada rosto transbordava tanta espontaneidade e eles pareciam fazer aquilo com tanta alegria que não havia como não ser tocado por aqueles adolescentes.

Eu mesmo não escapei de ser afetado por aquele clima. Tive vontade de fazer, naquele momento mesmo, uma gentileza. Mas tinha que ser uma gentileza que fizesse diferença na vida das pessoas. Meu defeito, meu pecado, foi não fazer uma gentileza ali naquele momento mesmo. Agora estou aqui me remoendo de não ter empurrado nenhum dos adolescentes no trilho do metrô quando a composição estivesse chegando na estação. Aposto que as pessoas ao redor, cansadas de uma semana de trabalho, iriam adorar minha gentileza. E eu teria contribuído para um mundo menos insuportável...