segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Quem precisa saber?


Tava lendo um blog de um cara que, depois de ler um pouco, acho que já conheço pessoalmente (aquelas coisas tipo "eita, mundo pequeno!"). Num dos posts, ele fala que é assumido para amigos e tal, mas pra família não.

Fiquei pensando nesse assunto de se assumir. Minha família sabe de mim porque eu já contei (depois que meu pai me perguntou). Alguns amigos também sabem que sou gay (ou bi, sem intenção de definir isto com muita exatidão agora...). Tem gente nada a ver pra quem contei e pra outros amigos não.

No meu caso, sei lá se é praticidade, ou medo, ou falta de resolução de conflitos internos, ou o caralho a 4. Tem gente que eu senti que precisava contar e contei. Tem gente que eu queria contar e contei. Tem gente que eu poderia, mas não quis contar. Tem gente que eu queria, mas senti que não devia contar. Tem gente que, até hoje, fico na dúvida se devo ou não contar. Tem gente que eu sei que sabe por outras fontes, mas que eu não quero confirmar.

Acho esse negócio de assumir, as vezes, uma imposição. Primeiro porque se não tem necessidade do hetero assumir que é hetero, não deveria ter necessidade do gay assumir que é gay. Se a gente colocar em outras palavras, vira piada: gay enrustido é pejorativo, mas hetero enrustido não existe, minha gente! Até a palavra assumir já traz algo de "tem uma culpa e precisa ser assumido". É uma carga muito negativa que é atribuida exclusivamente ao gay.

O segundo motivo de eu achar esse papo de se assumir uma imposição é porque fica uma coisa de ter que se expor e virar modelo a ser observado que eu acho degradante. Você deixa de ser apenas uma pessoa e se torna objeto de estudo de onde as pessoas vão tirar conclusões, emitir julgamentos e etc.

Quando se fala em assumir, deveríamos nos perguntar: Para que? O pessoal que defende essa postura fala de visibilidade. Poxa, eu não sou invisível. Só que ser o oposto disso não é ser um outdoor. Minha vida não é um livro aberto porque não sou celebridade. Tenho meus segredos, minha privacidade, coisas que são só minhas e que não quero dividir com qualquer um.

Outros falam no "alívio da consciência". Em se livrar daquela sensação de estar enganando as pessoas, de não ter que viver mentindo. Bom isso aí eu concordo. Para a maior parte das pessoas a quem eu já contei foi muito bom ter contado. Realmente, parece que o jogo é mais aberto, que eu sou mais eu. Mas, para algumas pessoas (poucas, graças a Deus) a quem contei, o sentimento foi de uma exposição desnecessária. Ficou parecendo que a pessoa ganhou uma autorização para invadir minha privacidade até onde eu não gostaria de que ela tivesse liberdade para fazê-lo.

Minha família prefere fingir que nada aconteceu e resolveu fechar o diálogo a esse respeito. E agora ficam fazendo extrapolações imaginárias para tudo: se vou dormir na casa de um amigo (e que nada mais é do que um amigo), falam que não gostam da ideia, me enchem de perguntas, etc., etc. Não querem que o diálogo chegue ao ponto real da discussão porque sabem que eu não aceito argumentos simplistas. Daí, penso que contar para eles não só cortou qualquer possibilidade de diálogo, como me faz ter que agir exatamente como eu não queria: ter que mentir para evitar "achismos" descabidos da parte deles.

É claro que o problema acima diminuiu depois que não estou morando mais com eles, mas não desapareceu por completo.

Uma vez li uma entrevista do André Fischer na Istoé que falava sobre o outing e acho que isso também acaba acontecendo, de uma forma ou de outra, com as pessoas que não são celebridades. Concordo exatamente com o que ele disse.

Cabe a cada um decidir o que quer ou não expor de sua personalidade e vida, medindo os benefícios e custos deste empreendimento.

2 comentários:

  1. Cara, você é bacana e, digo mais, é muito bem resolvido também.... Suas idéias e sua forma de se expressar me deixa muito feliz. Concordo com quase tudo. Bem, esqueci-me de dizer que vi um vídeo no discovery onde os animais que mais fazem sexo com outro de mesmo sexo é o leão. Isso não é incrível e revolucionário? O símbolo da realeza animal pode, sim, ser homoafetivo, sem problemas. Por que para nós homosapiens, isso é weird?

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  2. Anônimo, obrigado pelos elogios. pois é... Até os leões pertencem á irmandade... rs... Eu já conhecia este fato (não foi a toa que o símbolo do "Cara Comum" é o leão...), mas é bacana deixar registrado isso aqui!

    Abraços pra vc!

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