segunda-feira, 11 de junho de 2012

Dos que se vão

Uma vez recebi por e-mail um texto atribuído ao Miguel Falabela que falava a respeito da saudade. Era um tempo em que tudo conspirou para eu ser tocado por aquela mensagem: eu ainda lia esses e-mails encaminhados e estava morando em outra cidade por conta dos estudos. Assim, foi fácil me identificar com trechos do texto que dizia algo como: " Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia. Não saber se ela ainda usa aquela saia. Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupada".

Achei o texto muito verdadeiro, tocante e extremamente explicativo para o que acontece nas amizades ditas "virtuais". Porque a coisa é por aí mesmo: a pessoa desaparece e, por um tempo, a gente aceita o sumiço como algo que pode acontecer normalmente (a pessoa está sem acesso à internet, está numa semana mais complicada no trabalho, está de férias...). A saudade já surge aí, nesse tal de "não saber".

Depois de um tempo, junto da saudade vem também a preocupação, a vontade de querer saber se está tudo bem, e o desejo de que tudo esteja bem sim. Como não querer bem a quem veio e gratuitamente nos ofereceu um carinho inesperado?

Às vezes essas pessoas nem se afastaram. Ainda estão nos acompanhando de perto (lendo os nossos blogs, os nossos e-mails, nos acompanhando nas redes sociais), mas como não se manifestam, a gente não é capaz de notar sua presença. E, quando um amigo virtual deixa de fazer contato, seja por qualquer motivo e mesmo que ainda esteja presente embora oculto, a gente tem que aprender a lidar com essa tal de saudade. Essa danadinha, que é uma amiga que nos deixa um gosto dolorido na boca, mas também um perfume de que o passado valeu a pena ser vivido como foi.

Desde pequeno eu tive que aprender a lidar com a saudade. A maioria dos meus primeiros amigos eram vizinhos que viviam em casas alugadas. E como morar numa casa alugada é, geralmente, uma situação passageira, volta e meia eu me via sem amigos, tendo que recomeçar.

O lado bom é que desde cedo eu aprendi que é importante começar uma nova história. Isso dá cor novamente à nossa vida. Mas nem sempre isso significa esquecer as histórias já vividas. Às vezes são essas boas lembranças que nos ensinam a sermos os bons amigos que muitos nos consideram hoje.

E por falar nisso, creio que até no campo da saudade podemos dizer que toda experiência pode resultar numa aprendizagem positiva para nós. Todas essas separações numa idade tão tenra me fizeram mais facilmente compreender que as pessoas que estão na nossa vida não nos pertencem. Não somos seus donos capazes de aprisiona-las. Em nossas vidas, sua presença é efêmera, assim como todo o resto também o é. O que nos cabe é aproveitar o presente para desfrutar da convivência, para que a saudade tenha cores de gratidão pela oportunidade de ter convivido com alguém que foi capaz de despertar em nós um pouco de ternura.



P.S.: Dedico este texto aos queridos Papai Urso do Interior, Alícia, Mr. Gayrrisson, Garoto do Interior (o "Leitor" ou "Nick"), ao Lobo (que, apesar de não ter desaparecido completamente, vai deixar saudades pela ausência em seu blog), o Tiago e a todos aqueles que me deixam um "não saber" fruto de quem soube cativar. Um beijo para todos (e todas), presentes ou ausentes.

22 comentários:

  1. Um ótimo texto e verdadeiro e pertinente,mas,.... isso significa exatamente o que? Vai se mudar de novo?, como uma casa alugada?
    Beijos.

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    1. Mudar? Mas eu não mudei... hehehehehe. Só estive "de castigo" dentro de casa, mas sempre por aqui...

      Beijos!

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  2. Obrigado pela lembrança Cara Comum. Mas com sabe, estou sempre por aqui rs!
    Nick

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  3. ow gente
    q texto mais bonitinho...
    mas assim: eu q vivo com saudade de vc tá?

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  4. Suas experiências se aproximam muito das minhas desde a idade de criancinha ... sempre foi por aí mesmo ... é aprender a lidar com tudo isto mesmo ... hoje temos formas mais eficientes de mantermos-nos em contato, mas aí vem as coisas da vida de cada um e, por vezes, nem isto é suficiente e eficiente ... lindo o seu depoimento e sua homenagem aos amigos ...

    bjão querido e obrigado pelo carinho lá no Enfim ...

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  5. Belo texto! E é dificil essa coisa da pessoa de repente sumir de nossas vidas... uma vez um amigo me disse que eu precisava trabalhar o desapego, mas sei lá... eu sempre quis saber mais, cuidar!

    E lendo o teu texto me deparei com uma outra situação, eu já fui o garoto que morava em casa alugada e sempre estava partindo... engraçado como essas coisas marcam a vida da gente!

    Grande abraço!

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    1. Desapego é uma boa palavra, mas que nem é boa de exercitar... Beijos!

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  6. Pelo menos a saudade da minha pessoa vc matou... rsrs

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  7. Já eu sempre fui fã da constância. Por alguma razão, odiava mudanças e todo o trabalho interno e externo que acarretava. Mas não raro, me via agradecendo por (quase) todas as mudanças pelas quais passei na vida.

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    1. Bom, apesar de lidar com a mudança não posso dizer que eu era exatamente um fã dela. Apenas aprendi que ela é necessária e que faz parte da vida.

      Abração!

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  8. Você cada dia me surpreende mais... e sempre no bom sentido! Não que eu já não soubesse que você era uma pessoa carinhosa, sincera... A minha surpresa vem do fato de eu poder perceber sempre alguma nova forma de sensibilidade e carinho no que você escreve e demonstra pra gente. Acho que é isso.

    Beijos.

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    1. Eu nem sei o que responder. Achei que já havia feito algo semelhante e isso já era de conhecimento público. Mas... Obrigado!

      Beijos!

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  9. cara, que texto sensacional. eu também me lembro desse texto atribuído ao miguel falabella.

    vou inclusive colocar sua postagem no twitter pra mais gente ler. gostei muito de suas palavras e você conseguiu expressar muita coisa aqui.

    realmente a saudade é algo que dói, mas que ensina, que faz a gente crescer. parabéns pelo texto.

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  10. Gente, deixem minha alma descansar em paz! hahaha

    Brincadeira doido.

    Tô sempre por aqui, cê sabe né?

    Beijo!

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    1. Menino, então vai dormir no seu caixão, vai?? Huahuahauahauhaa

      Beijos!

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