Ontem foi Dia das Mães, todo mundo sabe. O que vocês não sabem é que não sou muito afeiçoado a datas. Eu não consigo dar importância a elas e acho que elas geram um fenômeno muito ruim: o tal "Dia de não sei o quê".
No aniversário da gente é o dia de todo mundo te ligar te desejar parabéns e fazer questão de mostrar uma presença nem sempre verdadeira. Tem gente que some o ano todo e aparece só no aniversário...
No Ano Novo é o dia em que a gente faz balanços, metas, auto-análise. No restante do ano a gente se deixa afogar em correrias e não para pra pensar um instante...
No Dia das Mães temos que prestar homenagens (não pensem besteira... Isso é incesto... rs) a nossa genitora. E apensa por um dia, todas as famílias se comportam como se fossem uma família de comercial de margarina. Mesmo que seja a mais pura falsidade, está todo mundo lá fingindo que é tudo lindo...
Acho isso o fim da picada. Sou muito mais quando tudo é feito na base da espontaneidade. Essa coisa de datas parece que nos obrigam a agir de determinada forma e eu prefiro demonstrações de afeto sinceras.
Fico muito mais feliz com um amigo que me liga numa terça-feira comum qualquer querendo conversar a noite que com outro que faz isso (só) no meu aniversário. Acho mais válido e mais afetuoso comigo mesmo parar de vez e quando e pensar em como estou e em como está minha vida que simplesmente fazer os planos de fim de ano. Prefiro que a família tente conviver superando as diferenças do dia-a-dia e que se mostre o valor que você dá a sua mãe no cotidiano que simplesmente chegar num segundo domingo de Maio e fingir que isto basta.
Mas eu vivo em sociedade. E tenho que me encaixar nela. O que pra mim não é importante e é de certa forma negativo, para o outro pode sera coisa mais precisosa do mundo. Por isso fui lá na casa da minha mãe passar um tempo com ela.
Confesso que não estava muito afim de fazê-lo, pois meu relacionamento com minha família não é dos melhores. Não, nós não somos brigados, mas a imagem que o Lobo usou como título do seu post sobre o Dia das Mães ilustra muito como eu enxergo meu relacionamento com minha família: "Vasos colados tem rachaduras".
É claro que tenho trabalhado como um restaurador de forma a dar um jeito dessas rachaduras desaparecerem. Não é fácil, mas a gente tenta.
Enfim, preferi não ir na hora do almoço pois estava com medo de acontecer o mesmo que aconteceu nos últimos três anos: minha mãe (religiosa ao extremo) querer participar do almoço do dia das mães na igreja. Aí, além de posar de família feliz, ainda teria que ouvir os insistentes pedidos para que eu regresse à Igreja Católica, como se eu não tivesse mudado de religião há muito tempo, não estivesse super melhor comigo e com Deus e como se todo mundo não soubesse disso...
Como parteda tática para evitar isso, cheguei na casa da minha mãe às 17:45 horas. Foi engraçado. Porque desta vez, minha família resolveu fazer um churrasco no dia das mães ao invés do almoço na igreja (mesmo sabendo que eu não como carne, mas...). Quando eu cheguei o churrasco já tinha acabado e não havia opção de comida. Tudo bem, eu não estava com fome mesmo e nem fui lá só pra comer.
Pra completar a ironia, minha mãe deixou pra ir coordenar uma reunião da Pastoral das Gestantes (sim, minha mãe é muito beata e influente na igreja...) às 18:00h. Logo, eu cheguei e ela estava saindo e só iria voltar duas horas depois. Meu irmão, vinte minutos depois que minha mãe saiu, tb saiu junto com minha cunhada para pagar umas contas no shopping (acreditem...). E meu pai, desde antes de eu ter chegado, estava dormindo no sofá.
Enfim, fiquei sozinho na casa dos meus pais por quase duas horas, sem poder fazer nada a não ser ouvir música. Confesso que senti um certo alívio. Às vezes eu me sinto muito incomodado em conviver com meus familiares. São sempre as mesmas perguntas (está comendo direitinho? está dormindo direitinho? Coisa de pais superprotetores que esquecem que o filho já tem quase três décadas de existência...), as mesmas cobranças (vc não me liga, vc não vem aqui... mas apesar disso, eles também não me ligam, não vem na minha casa...)... Enfim, dá uma certa preguiça mental ter que encará-los, mas eu faço um esforço em nome da reconciliação.
Quando minha mãe voltou, meu pai acordou e aí conversamos um pouco. Desejei um feliz dias das mães do fundo do meu coração num abraço sincero. Coloquei todo meu amor naquele gesto. Todo o meu desejo de que a gente realmente possa superar as divergências do passado (depois eu conto sobre isso num outro post).
Então, conversamos numa falsa paz, uma coisa com gosto meio cinza, sobre amenidades, novidades do dia-a-dia... No meio dessa conversa, ela disse que na missa pela manhã (já falei que minha mãe é muito religiosa? rs) ela quase foi às lágrimas quando cantaram a música "Mamãe" que está no vídeo abaixo:
Ela disse que a música a fez lembrar de quando eu era criança na escola cantando essa música pra ela numa comemoração do dia das mães. Que aquilo lhe fez lembrar da saudades que ela sente de mim... Tive que cortar o barato dela e lembrar que quem cantou a música na verdade foi meu irmão e não eu... Hahuahuahua (risada entre o sádico, o satânico e o irônico). Fora que essa música é tão brega... Mas, fazer o que se ela gosta, né?
Não sei se é porque eu fico puto com chantagem sentimental e já corto de cara ou se eu sou insensível mesmo. Mas tenho por mim que ela só fica falando isso na esperança de amolecer o meu coração e eu deixar de viver com meu namorido pra voltar pra casa dela.
O certo é que a conversa continuou morna, meu irmão chegou, eu esqueci de dar os parabéns pra minha cunhada que vai ser mamãe até terça-feira no máximo... Coisas normais.
Fui embora pensando que o abismo que existe entre eu e minha família é maior do que eu pensava. Eles são estranhos para mim. E eu um invasor que é bem-vindo naquela casa.
Acho que todo mundo prefere a espontaniedde e demonstrações de afeto sinceras. Mas eu já não faço questão nenhuma de apagar as rachaduras. Por mais que tentemos disfarçar, acho que elas nunca vão sumir. Acho que muito por isso que eu as aceito e não espero mais nada para não me frustrar.
ResponderExcluirCertas coisas nunca mudam (e não nego que também adoro ser estraga-prazer emocional :p).
Um beijo, doido.
Ai, God, dá um jeito nesse captcha, homem! XD
ResponderExcluir* Lobo, meu caro! Olha só: eu não considero rachaduras como impossíveis de serem consertadas. Afinal, quero acreditar que tudo pode ser superado. Logo, eu tento.
ResponderExcluirMas eu tenho consciência de que elas existem e, aceitando essa existência e sabendo o que as causou, não espero mais nada dos outros. sabe, confiar desconfiando?? Então...
Sobre o captcha... Que captcha??? hehehehe... Qual o problema que eu não entendi???
Abraços!!
* DÉIA, seja bem-vinda!! obrigado pelos elogios, apesar de que nem sem se os mereço... vou dar uma passada lá por suas terras e depois te conto o que achei ok? Bjs!