segunda-feira, 23 de novembro de 2015

A gente sabe que é amor quando... XIV (o último)

Bem, talvez esse seja o post mais diferente de toda essa série. E tem seu motivo de ser. Ele não é cômico, não é ameno. Porque ele é sobre o fim do meu casamento com a pessoa que aqui no blog ganhou o pseudônimo de Maridão.

Enquanto eu pensava em escrever sobre esse post, até questionei se deveria mudar o pseudônimo dele para outro mais "genérico" colocando uma qualidade dele em destaque, um detalhe pelo qual eu (e somente eu) o reconheceria em meio a tantos pseudônimos, mas entendi que não era esse o caminho. O que mais cabia a ele seria somente um pseudônimo e nenhum outro: Ex-Maridão. Por que? Porque realmente é o que ele representa na minha vida: alguém que foi um grande marido, um ótimo companheiro, um porto seguro, alguém que eu ajudei bastante, uma fonte de irritações e crescimento pessoal, alguém que se inscreveu na minha história, como um co-autor, enquanto a nossa história durou. Foram quase 6 anos.

Terminamos faz uns dois meses. Não publiquei antes pq tô sumido desse blog, num momento em que minha vida fora da blogosfera, no "mundo real", clama por muito mais atenção. Qual foi o motivo do término? Bem, acredito que tem todo um processo envolvido... A gente tentou acertar por diversas vezes nossos ponteiros, mas temos algumas diferenças que dificultam o compartilhamento de uma vida. Rolou atritos, como acontece com qualquer casal (veja a maioria destes posts pra relembrar) e outros mais sérios. Eu cedi e mudei meus planos de vida em nome do relacionamento e, ao mesmo tempo, não senti que havia planos em comum. Sentia que havia uma caminhada que era lado a lado, mas que poderia ser perfeitamente individual e isso não faria diferença nos "planos". Tivemos nossas diferenças em preferências sexuais, o que também ajudou a resfriar um pouco a coisa. Mas talvez o que mais pesou é que somos pessoas com disposições à mudanças muito diferentes, principalmente, em ritmos diferentes.

Minha vida é movida num sentimento de tentar ser cada dia uma pessoa melhor do que já fui. E eu encaro isso num ritmo frenético e numa direção bem determinada. Já ele acha o crescimento pessoal importante, mas tem naturalmente uma dificuldade com mudanças e, por isso, não muda no mesmo ritmo frenético que eu, nem tem uma direção bem definida. Quando comecei a questionar meu gênero, comecei um processo de libertação pessoal. Mas começou a ficar claro que eu estava também alcançando um limite dele: eu estava me afastando muito do ideal de pessoa que ele tem para ter um relacionamento amoroso. Ele não quer, como um companheira para si, uma pessoa de gênero fluido, nem uma mulher, nem nada que remeta ao feminino. Ele é gay, não tem problemas para se relacionar com pessoas efeminadas, mas não gosta (no sentido de "não ter gosto por") do feminino em suas relações amorosas (amor eros). E eu, cada vez mais, incluo não só o feminino, mas outras expressões de gênero que diluem um pouco o masculino em mim. E, mesmo que minha expressão de gênero seja algo variável (já que eu tenho uma fluidez no gênero), os momentos em que ela se aproxima do feminino o incomodam muito (pois, segundo ele, isso diminui o desejo sexual dele por mim). Contudo, apesar de ter sua importância, toda essa questão de eu estar questionando o meu gênero foi só a gota d'água de um processo de afastamento que já estava acontecendo pelo simples fato de sermos pessoas diferentes.

Como fiquei com isso? Claro que não foi fácil lidar com o término, mas algumas coisas ajudaram. Além do meu pé no chão de não acreditar nesse amor vendido pelas novelas da TV e pelas princesas da Disney, a principal delas foi perceber que essa era a melhor decisão a ser tomada. Era melhor que cada um seguisse sua vida que continuar insistindo em algo que apenas traria atritos crescentes e desgaste emocional para ambos.

Conversamos, chegamos num consenso e foi isso. Continuamos amigos, sem mágoas. Estamos ainda no processo de "descasar", fechando contas conjuntas, separando dependências em planos de saúde, indo à justiça para declarar o fim da união estável registrada em cartório, eu dormindo no quarto de hóspedes enquanto não consigo me organizar financeiramente para ter minha própria residência (como eu não estava esperando a separação, tenho algumas dívidas que me impedem de contrair novas dívidas financeiras e me falta o básico para ter minha própria casa - mobília, adiantamento do aluguel, etc. - e isso coincidiu com problemas financeiros relacionados ao trabalho)...

Estamos os dois tentando superar o término da forma mais madura possível e até isso me enche de orgulho. Realmente foi um relacionamento construído com muito respeito e motivos para se orgulhar. Ele foi, durante muito tempo, o homem da minha vida. Mas agora minha vida tem essa companhia a menos, ao mesmo tempo em que surge novamente a figura do amigo que éramos antes do início do relacionamento. Assim, eu sigo em frente firme, tanto pelas bases sólidas do passado (e a isso eu devo muito a esse relacionamento) quanto pela minha força e determinação em seguir em frente e chegar onde quero...

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A gente sabe que é amor quando... houve cuidado e respeito o suficiente para que o término fosse respeitoso e que não se precisasse "virar inimigos" para entender que cada um deve seguir seus caminhos...

10 comentários:

  1. Vocês têm mesmo motivos para se orgulharem. Mas nem sempre as coisas seguem o curso que desejávamos e esperávamos. Nada é o fim nesta vida. Ela continua e sempre nos ensinando algo mais. Boa sorte e felicidades aos dois.

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  2. Bom, cheguei por aqui hoje e tenho a impressão que comecei pelo lado errado.
    Um final de relacionamento é sempre complicado, mas quando é um consenso e com respeito, fica um pouco menos dolorido.
    A cada dia que passa é um pouco menos dolorido quando se tem certeza de que é certo.
    Que vocês fiquem bem !

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    1. Opa, receba as boas vindas! =]

      Fique na tranquilidade que vc não começou do lado errado não... Só chegou num momento turbulento, que já se ajeitou!...

      Agradeço os bons desejos!

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  3. Meu amigo, meu querido amigo, esse é o tipo de texto que exigiu 1, 2, 3 leituras, para que eu me sentisse capaz de comentar alguma coisa. Vamos lá: mesmo que eu já soubesse, a primeira coisa que me veio à mente foi a palavra dignidade! Eu sempre tive um enorme respeito por sentir que você era uma pessoa essencialmente digna. Hoje, esse meu sentimento foi multiplicado por mil! Além disso, mais uma vez, eu acredito que aprendi aqui um novo ensinamento: se uma relação for alicerçada no amor, não se pode dizer que ela tenha terminado, mas sim que tenha apenas se tornado inviável. Em outras palavras, não é a falta de amor que inviabiliza uma relação, mas outras coisas, que perpassam pelo teu texto.

    Sintetizando o que estou pensando: amar é planejar; configurar planos, que tenham a capacidade de (sem se originar necessariamente de apenas um dos envolvidos na relação), envolver e surpreender aos dois na mesma intensidade. E a “mágica” que torna possível tal planejamento não é o exercício de ceder, como se pode usualmente pensar. Quando alguém cede na formulação de um futuro, na verdade isso implica em desistir de algo em favor do outro. De onde podemos concluir mais apropriadamente: amar é conceder! Quando ambos concedem, o plano passa ser mais do que a soma das individualidades, sem que se perca nenhuma delas.

    Desculpe se estou enganado, mas foi isso que aprendi aqui hoje. E, replicando algo que um dia você escreveu pra mim: é uma honra (sempre!) poder conhecer um pouco mais de você!

    Um abraço bem forte!

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    1. Olha...

      Eu nem tinha feito uma análise de tudo e vc o fez com maestria, meu caro amigo. Obrigado pela honra de te ter dentre os que me são próximos!

      Abraços fortes!

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  4. Ei meu lindo.
    Quero dizer que sinto muito, mas explico que, esse sinto muito, não é necessariamente pela decisão que vocês tomaram de terminar essa união, e sim pelos planos originais não terem dado certo. Sei, por você, que esse casamento foi muito querido pelos dois, e acredito que o Maridão também esteja sentindo a mesma dor. Mas, infelizmente(ou felizmente), nada é definitivo sobre a terra, só a morte(rs), e sei que ambos seguirão em frente, cada um com seu próprio objetivo a conquistar.
    Bola pra frente...a fila anda!

    Beijos meu querido e um cheiro NN.

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    1. Agradeço a solidariedade, minha querida!

      Beijos e cheiros NN!

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  5. Torço para que vc e para q ele tambem sejam felizes independente com quem esteja.

    Acho que as vzs nos relacionamentos até conseguimos mudar alguns aspectos nossos, algumas manias e costumes nossos para agradar ao outro e evitar atritos.

    Mas a sexualidade e o genero são impossiveis mudarmos para agradar alguem; tem gente que finge estar feliz e passa a vida toda vivendo num cenário, sendo aquilo que não é, e qndo percebe a vida ja passou.

    A melhor coisa é ser livre e expressar quem somos. O lado ruim é que nem sempre encontramos alguém, que tenha digamos 'afinidade' com o nosso verdadeiro eu, para um relacionamento.

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    1. Pois é... Como diria Vinícius de Moraes: "A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros por aí..."

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